quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Ano Novo

Que 2009 seja melhor que 2008. Um grande abraço aos leitores deste blog! Saúde!

sábado, 27 de dezembro de 2008

Minha sobrinha

Passei o Natal na casa de mamãe. Era madrugada, e eu durmo normalmente bem tarde. Minha mãe queria que víssemos um filme chamado "Questão de honra", e eu topei.
Sentamos no sofá enquanto minha sobrinha, desinteressada daquela trama, saiu para a cozinha. Lá pelas tantas, melindrosamente perguntei à minha mãe se tinha chá. Ela disse que sim, e ficou por isso mesmo. Lá da cozinha, entretanto, minha sobrinha ouviu a indagação. Vinte minutos depois, enquanto rolava um intervalo do filme, ela me aparece com uma xícara de chá mate, já doce.
- Eu que fiz. Está gostoso?
Nossa, estava ótimo! Mais gostoso que o chá era ver uma menina de apenas 12 anos esforçando-se para ser prestativa e gentil. Fiquei comovido.
Minha sobrinha se parece muito comigo, em gostos, em hábitos, até fisicamente, a ponto de alguns perguntarem se é minha filha. Como não tenho filhos, ela é o que mais perto chega disso. Mas ela tem algumas melhorias em relação a mim. É mais loquaz, mais ousada, mais pura, mais criativa, mais desinibida. Não sei se as pessoas fazem idéia do orgulho que tenho dessa menina, e da felicidade que é vê-la crescer tornando-se uma pessoa boa, sensível, humana, generosa. Não tenho acompanhado esse crescimento, pois moro longe, mas quando posso perceber seus sinais, fico tocado.
Eu demorei muitos anos para enquadrar meu individualismo e aprender a gostar de servir e oferecer o meu melhor para a felicidade de alguém. Como professor, nem sempre posso agir assim. A profissão nos obriga a ser um pouco duros e as condições de trabalho nos impõem certas necessidades de auto-proteção. Ainda assim, fui aprendendo com o tempo a ser mais doce, mais maleável, menos atento aos problemas e mais atento às pequenas bondades do cotidiano escolar. Talvez por isso me seja tão importante valorizar a gratidão e a generosidade quando as reconheço nas espontaneidades dos que me rodeiam. Talvez elas sejam a grande fonte de argumentos para minha insistente máxima de que a vida tem de valer a pena, qualquer que seja a história que a enforme.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Dica

Se você é vegetariano, deve ter encontrado problemas para comer por aí, quando não tem tempo de fazer uma refeição efetiva. Não é comum encontrarmos locais que oferecem variedade de opções para nossa dieta alimentar.
Pior ainda se você, como eu, tem problemas de saúde que se agravam quando seu peso aumenta. Se a opção vegetariana se restringia àquilo cujo recheio é queijo ou palmito, agora ela ganha o agravante da proibição de frituras, massas, refrigerantes e doces.
Andando pelo Shopping Light, avistei a Subway. Quis experimentar. Sem conhecer muito o esquema, perguntei para o rapaz se havia alguma opção vegetariana. Ele disse que havia um sanduíche de mussarela de búfalo com tomate seco. Só que, no sistema deles, eu é que tinha de montar o sanduíche, indicando quais seriam os ingredientes. Já que o rapaz dera a liberdade, me esbaldei: pão integral, a mussarela e o tomate seco quentes, queijo cheddar, alface, pepino, azeitona, cebola, sem tomate (não me faz bem, só me vai o seco), mais algum vegetal que não lembro, e, por último, o molho agridoce, como um toque especial.
Não sei se estava com muita fome, mas o fato é que achei esse sanduíche simplesmente delicioso. Deve ser um tanto quanto calórico, nem sei, mas parece ser uma opção para o caso de estar perdido num shopping, correndo contra o relógio e impedido de se empanturrar de coxinha e coca-cola. De qualquer forma, se alguém um dia resolver experimentar, tenho certeza de que não vai se arrepender.

Sem vergonha de ser feliz

Ou poderia ser medo, só quis variar o título um pouquinho.
Estava na nova Saraiva do Shopping Ibirapuera, que tem um telão. Nesse telão, estava o Keane, fazendo um show vibrante e comovente em Londres.
Estava eu parado na frente desse telão. Estava ali um tempão, tendo saído apenas uma vez para descansar as pernas e ir ao banheiro. Estava ali e fui ficando, ficando, ficando...
Eu vi quase todo o show do Keane de pé, no telão da livraria Saraiva, enquanto consumidores circulavam e faziam compras de Natal. Nenhum vendedor me perguntou nada. Só fui interrompido por duas pessoas, uma que me perguntou quem estava cantando e a outra, onde estava aquele DVD na prateleira. Digamos que eu fui até útil para os interesses da loja.
Não tenho vergonha nenhuma de ter assistido o show quase inteiro no telão da Saraiva. Se fosse um disco legal tocando, eu me sentaria no sofazinho e só sairia dali quando acabasse a audição. Tenho amigos, conhecidos e familiares que achariam horroroso, coisa de pobre. Não estou nem aí. A gente só pode se comover quando paga? A gente só pode curtir quando consome? Pobre, para mim, é espírito que não tem sensibilidade.
Outro dia, recebi um desses e-mails enviados a milhões de caixas-postais com "coisas de pobre", ou "sintomas de pobreza", não lembro bem. Tá certo, é pra ser engraçado, é uma piada, uma brincadeira etc. Mas aquilo, no fundo, me incomoda. Porque às vezes parece que todas as diferenças de cultura, gosto, escolha e hábitos se resumem ao pertencimento a uma camada social economicamente determinada. Ou que todas as pessoas querem as mesmas coisas da mesma forma, diferindo apenas na possibilidade de realizar ou frustrar suas ambições. Ou - mais maluco que isso - como se gastar fosse status, e economizar fosse sinal de inferioridade.
Não sei o que dizer quando as pessoas fazem essas brincadeiras, ou dizem coisas como: "se você pensar como pobre, será sempre pobre", "pobreza atrai pobreza", e pérolas do tipo. Azar delas: perdem o Keane fazendo um show lindo, de graça, quase exclusivo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Carros

Não tenho carro e não sei dirigir. Pretendo tirar minha carta em 2009, pois acho necessário poder guiar um veículo em uma eventualidade. Mas confesso que nunca tive muita ligação com automóveis, a ponto de ser incapaz de diferenciar visualmente um modelo de outro. Isso significa que se um dia precisar dizer a alguém qual carro estava na porta da minha casa, provavelmente só estarei apto a acertar a cor.
Não considero satisfatória minha posição indiferente em relação aos carros. Precisaria entender um pouquinho mais deles, e ter pelo menos a competência para utilizá-los. Creio, entretanto, que há um outro extremo dessa relação, que é aquele em que o indivíduo gosta tanto de seu automóvel que não consegue ter uma identidade sem ele. Não me refiro a motoristas, ou pilotos de corrida, ou aventureiros, ou pessoas que simplesmente gostam de passear com seus veículos. Refiro-me às pessoas que precisam do carro para ser quem são, para dizer o que dizem, para manifestar sentimentos de superioridade, para agredir.
O primeiro caso é o mais comum, e como exemplo posso citar dezenas de colegas que simplesmente consideravam (às vezes com razão) que suas namoradas os abandonariam e seus amigos desapareceriam se eles estivessem sem carro. Afinal, como entoa alegremente Ivete Sangalo, "andar a pé é lenha". A não-posse do veículo provocava nessas pessoas um sentimento de inferioridade tão descomunal, uma ansiedade de adquirir tão forte, que vi muitos deixarem de pagar pensões alimentícias ou ajudar suas famílias com o argumento de que estavam guardando dinheiro para comprar um carro ou pagando prestações do mesmo.
O segundo caso também é bastante freqüente. Tanto que aconteceu comigo hoje. Vinha eu da academia com uma camisa do Grêmio (para que fique claro, sou cruzeirense. Tenho, a despeito disso, camisas de vários clubes, porque acho bonitas) quando ouço uma buzina e uma voz provenientes de um carro que passava em alta velocidade. Disse o motorista algo como "aeeeeeeeeeeeeeeeeeeee viiiiiiiiiiiceeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!" (não conseguirei reproduzir a elaboradíssima entonação do sujeito) e continuou seu caminho, provavelmente satisfeito pela provocação e pela impossibilidade de revide. Eu não revidaria; sei que é brincadeira. Mas duvido, apostando todos os meus dentes e meus globos oculares, que esse cara me provocaria se estivesse a pé. O carro dá a certas pessoas a ilusão de que são inatingíveis, de que podem simplesmente acelerar e ir embora depois de brincarem ou provocarem alguém. Isso traz coragem. Lembro, quando adolescente, quantas vezes mexíamos com prostitutas ao voltar de alguma balada, apenas porque sabíamos que estávamos motorizados e que poderíamos fugir das respostas. Admito essa babaquice no meu currículo; até porque isso me ajudou a perceber o quão imbecil eu poderia me tornar numa situação como a do motorista são-paulino. Graças a Deus percebi mais cedo que outros minha sanha de covardia, e me regenerei a tempo.
O terceiro caso é o mais engraçado de todos. Há pessoas que se sentem bem dando cavalo de pau, ligando o som do carro num volume insano, passando quatrocentas vezes no mesmo lugar para ser reconhecido dentro do veículo, exibindo de todas as formas possíveis aquilo que é, basicamente, um meio de transporte. Eu lembro, quando morava com meus pais e minha família estendida, que, de vez em quando, minha prima aparecia por lá. Muito bonita e gostosona, ela chamava a atenção dos rapazes da praça onde morávamos. Um deles, conhecido garanhão do pedaço, adotava a estranha tática de sedução de encostar seu carro na calçada oposta ao portão da nossa casa e ficar buzinando por horas a fio, chamando a moça. Além de ser deselegante e cafajeste, era absurdamente ridículo, dado que, se ele simplesmente batesse palmas no portão, ela iria sem nenhum problema. Mas julgo que, ao fazer isso, ele se igualaria aos outros pretendentes, e sua segurança iria para o brejo.
O quarto caso é o mais perigoso. Diz respeito a pessoas que usam seus veículos para intimidar ou machucar outros indivíduos, sem nenhuma compreensão da responsabildiade que têm enquanto motoristas. É aquele pessoal que joga seu carro em cima de outro, em função de alguma discussão de trânsito ou manobra que não tenha gostado. Ou, pior ainda, que avança com seu carro sobre pedestres, às vezes buzinando, às vezes nem isso, para tirá-los do caminho ou acertá-los. Lembro de ter, uma vez, passado em frente a um estacionamento no exato momento da saída de um apressadinho. Ele brecou para que eu passasse, mas se irritou com ter de fazer isso, e deu um pequeno tranco, sem me acertar, mas como que dizendo "tá vendo, se eu quisesse?". Juro que fiquei olhando para o rapaz, mais estarrecido que ofendido. Minha cara era de "você passaria mesmo por cima de mim por causa de 3 ou 4 segundos?". O pior de tudo é que hoje sei que alguns passariam sem dó. E não por estourarem: apenas por poderem.
Pondero, por fim, que nossa sociedade precisa aprender que todo aumento de poder implica maior carga de responsabilidade, e que isso tem tudo a ver com o consumo, e mais a ver ainda com automóveis. É legal sentir-se bem e confortável dentro de um seu veículo; mas há algo de errado em sentir-se bem apenas quando dentro de seu veículo. E isso pode ser muito perigoso.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Nilmar

Gosto muito de transmissões esportivas de todo o tipo. O esporte de ponta é, para mim, algo de grande beleza plástica, talvez até artística em alguns casos. Ao acompanhar partidas de futebol, tênis, vôlei, basquete, ou eventos de natação, atletismo, ginástica, gosto de ver os atletas mais elegantes, que combinam uma certa altivez pessoal com um desempenho plasticamente agradável aos olhos. Muitas vezes esses atletas não são os mais eficientes nem ganham o jogo, mas quase sempre ganham minha simpatia.
O jogador que mais gosto de ver no futebol brasileiro, hoje, é Nilmar, do Internacional. Leve, ágil, goleador, talentoso, um craque dentro da área. Hoje, enquanto acompanhava a eletrizante partida entre Internacional e Estudiantes, pela final da Copa Sulamericana, minha torcida não era apenas para um título dos gaúchos. Eu queria também que o gol do título fosse do Nilmar. Seria um coroamento ao bom futebol desse garoto, que, não entendo como, ainda não tem vaga garantida na seleção (Dunga estava no estádio, quem sabe volte pra casa com uma impressão semelhante à minha).
Pois não é que deu tudo certo? Não é que o Inter foi campeão com um gol do Nilmar? Fiquei muito contente, compensou ter ficado acordado até quase 1 da manhã.
Nilmar está na minha galeria pessoal de artistas do esporte, na qual eu incluo ainda Roger Federer, Daiane dos Santos, Ian Thorpe (aposentado), Marta, Manu Ginóbili e o levantador Ricardinho. Há muitos outros, sei, mas gostos pessoais não costumam ter tanto compromisso assim com a coerência. Esses me ganharam. Torço por eles, independente da camisa que vistam. É um modo diferente de torcer, eu sei, mas é igualmente bacana.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Televisivas

O concurso "Beleza na favela" da Record tem um lado interessante, que é dar oportunidade profissional a meninas de regiões desfavorecidas. Há, no entanto, a reprodução de um problema que é o mesmo de todos esses concursos de modelos: exige-se um biotipo extremamente magro e raro de encontrar na população em geral. Acaba-se reforçando o estereótipo de mulher magérrima, que ocasiona um parafuso mental nas adolescentes do mundo afora e está relacionado ao aumento assustador dos casos de anorexia e bulimia em pessoas cujo biotipo é diferente desse que é valorizado. Legal dar oportunidade a localidades diferentes; mas eu espero ainda um concurso aberto a tipos de beleza diferentes, valorizando, inclusive, a beleza das muitas mulheres brasileiras que não são magérrimas e compridas, mas enchem os olhos de encanto.
Agora, trocar "favela" por "comunidade" no nome do concurso é meio forçado. As palavras não são sinônimos, nem a segunda serve de eufemismo para a primeira. E "favela" não é pejorativo, na minha opinião.
Curioso vai ser explicar o concurso para quem não o conhece:
"- O que é esse não sei o quê de beleza na comunidade?
- Eles pegam meninas e elegem a mais bonita e fazem um contrato com ela.
- Meninas de onde?
- Acho que das favelas."
Nesse caso, creio que o vocábulo politicamente correto apenas contribui para reforçar a sensação de distanciamento entre o mundo do concurso e o mundo da favela. Soa falso, e menos simpático.

O César Tralli esteve aqui no meu bairro, a uma rua da minha casa. A reportagem filmou crianças traficando drogas livremente, com a maior tranqüilidade e sem pressão de nenhuma instância de segurança pública. Achei ótimo. Isso é denunciado faz tempo, mas é voz corrente que essas questões, por mais agudas que sejam, só incomodam os administradores da coisa pública quando expostas na mídia. Espero que haja respostas efetivas a essa louvável provocação do SPTV, porque essas crianças são a ponta de um processo muito pernicioso, e, por isso, as primeiras a sofrerem os brutais efeitos da violência ligada a esse gênero de criminalidade. Depois coloco o link.