domingo, 25 de dezembro de 2011

Por que os bichinhos me comovem?

Meus amigos e meus inimigos têm uma senha para me ganhar, dominar ou expor. Eles sabem que sou muuuuuito emotivo. E que choro fácil, fácil.
Isso desde criança, e não exatamente porque seja um menino mimado (pelo menos não tanto quanto outros que tenho conhecido ultimamente), mas porque talvez esse seja um daqueles traços que são da pessoa, que vêm com a história de vida e as disposições de espírito de cada um, e que não podem, mesmo com toda a terapia do mundo, ser apagados sem prejuízo da integridade.
O mais interessante - e talvez mais perigoso - dessa emotividade é que ela se associa a coisas curiosas, inusitadas e incomuns. O megaexemplo seria minha paixão pelos bichinhos: cães, gatos, coelhos, lagartixas, tigres, sapos, formigas etc. Observar os animais, para mim, é de certa forma ser absorvido por seus dramas de existência, suas lutas, suas dores, suas sortes e azares. E - perdoem-me a afirmação provavelmente exagerada - sinto-me mais humano vivenciando essa experiência do que me sentiria em certas situações cotidianas entre humanos. Talvez porque os animais são o que são, sempre; e os humanos esforçam-se, muitas vezes, em ser alguma coisa que não são, e não chegarão de fato a ser.
Eu não posso ver filmes como "Marley e eu". Eles me fazem chorar, eu fico automaticamente apaixonado pela personagem principal. Não precisam nem ser grandes filmes, como de fato esse não é, mas basta que tenham a sensibilidade de mostrar a natureza sem disfarces nem meias verdades dos bichos para que eu me entregue por inteiro. Esses dias o filme passou de novo. Consegui ver até as cenas em que ele começa a envelhecer. Depois, fui fazer outra coisa, porque sabia que desabaria no final.
A série "No reino dos Suricatos" é outro exemplo. Como me comove! Como torço por aqueles animaizinhos simpáticos, gregários e expostos à toda aridez e inospitalidade do deserto! Certos episódios são mesmo impossíveis de ver, para mim, sem chorar, ou pelo menos ficar perto de derrubar algumas lágrimas.
Um amigo meu de profissão me disse que uma das melhores sensações de sua vida era observar, por horas e horas, caracóis, formigas, caramujos percorrendo o campo aberto das terras do interior. Isso é realmente uma experiência única. Só consegui fazer isso na infância, mas reconheço-me inteiramente nesse prazer que ele me descreveu.
E eu poderia ficar aqui enumerando muitas outras situações, com gatos abandonados, cachorros de rua, pombos e pássaros caídos, e outros. Há algo em mim que se mobiliza em prol dessas criaturas.
Evidentemente, amo os seres humanos também, tanto que mergulho na cultura historicamente produzida como quem salta em uma piscina de mel. A questão é que, por alguma razão que não sei dizer, os bichinhos muitas vezes parecem mais indefesos diante do mundo, e ao mesmo tempo mais fortes e resilientes em sua batalha pela continuidade da espécie. Enfim, é inútil explicar.
Como todas as coisas da minha vida, essa facilidade de comoção está eivada de contradições. Perguntariam, com razão, vários de meus amigos: mas, se você compreende a dignidade e a integridade dos animais, por que não se torna vegano, ou vegetariano? Olha... eu tentei. Não consegui. Mas não descarto tentar de novo. Na verdade, tenho enorme admiração pela minha prima Estela e meu amigo Cesar, que levam esses princípios muito a sério em suas vidas. Talvez eu precise de mais tempo; talvez seja esse um dos meus desafios a vencer. Evidentemente, se minha saúde ficasse comprometida, ou se houvesse necessidade de consumo, para alguma carência do organismo, de elementos de origem animal, eu os consumiria, mas evitando ao máximo ampliar essa necessidade ao ponto de transformar em hábitos descuidados.
Mas essa é uma outra questão. O que quero deixar claro nesta postagem é que meu coração é dos cães, gatos e suricatos, mesmo quando não os compreendo ou tenho medo de suas reações. Ou posso até dizer: justamente porque eles guardam certo mistério da vida, que é divino em sua manifestação.