Uma pessoa prepara um projeto, extremamente bem feito e bem estruturado, para dar aulas com e sobre a televisão brasileira.
O projeto passa por um processo de seleção, a pessoa é entrevistada por coordenadores pedagógicos, a viabilidade é debatida exaustivamente. Ele é aprovado com a condição de ser aplicado em toda a sua riqueza de propostas.
A pessoa se prepara, então, para a primeira aula, o primeiro contato com os alunos: grava vídeos, xeroca textos, organiza uma explicação.
A pessoa se depara, então, com a primeira pedra no caminho: constata que a escola estadual na qual desenvolverá seu projeto não possui nenhuma sala com tomada funcionando. Todas as tomadas foram destruídas pelos alunos com a introdução de objetos.
A pessoa pasma. Mas insiste. Procura a coordenação e pergunta se não há nenhuma possibilidade para ligar os aparelhos da escola (afinal, argumenta, é um trabalho sobre televisão). A coordenação diz que a realidade é aquela, e que a pessoa tem de usar a criatividade para driblar a situação.
Não, a coordenação não diz que chamará um eletricista para consertar ao menos uma tomada de uma sala. A realidade é aquela, é preciso usar a criatividade para driblar a situação.
Não tem tomada. O projeto é sobre televisão. Mas a realidade é aquela, é preciso usar a criatividade para driblar a situação.
A pessoa existe. A escola existe. A situação não foi ficcional.
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