sábado, 21 de fevereiro de 2015

Incompreensível para mim


Vamos lá, bem simples.

1) Prefiro a palavra "impedimento", já devidamente aportuguesada, à palavra "impeachment".

2) Fui governado 8 anos por FHC, em quem não votei, já tendo idade para votar. Houve corrupção no governo FHC? Houve (compra de votos da reeleição, privatizações etc.). Em algum momento eu pedi o impedimento dele? Não.

3) Fui governado 4 anos por Celso Pitta, DEP, em quem não votei. Houve corrupção no governo dele? Nem precisa responder. Em algum momento pedi o impedimento dele? Não.

4) Fui governado mais de vinte anos por Serra, Alckmin, Covas. Houve corrupção durante esse período? Sim (caso Siemens). Em algum momento pedi impedimento de qualquer um deles? Não.

5) Fui governado por caras em quem votei, vários. Covas, Fleury, Lula, Dilma, Marta. Houve corrupção nesses governos? Sim, sem dúvida. Senti-me enganado, traído, humilhado e diminuído em minhas escolhas? Não. Tenho consciência de que voto em partidos e estruturas ideológico-políticas, e não em perfis vendidos por marqueteiros. Alguma vez pedi o impedimento de quaisquer dessas pessoas? Não.

6) Por que não pedi o impedimento de todos esses caras, se admito que em todos esses governos houve corrupção? Porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. Impedimento é uma medida legal que recai sobre quem comprovadamente cometeu um crime. Precisa de um julgamento, com direito a ampla defesa e contraditório. Leva tempo, e tem de ser assim. 

7) E mais: impedimento é da pessoa, não da organização político-partidária. Essa permanece, porque o povo a elegeu. Se o povo elegeu Pitta, e o vice do Pitta é o Kassab, significa que o impedimento do Pitta coloca o Kassab no poder para realizar o programa de governo... do Pitta! 

8) Democracia implica saber perder. Quem não sabe perder, não sabe ganhar. E isso é perigoso. Se Alckimin, por exemplo, por qualquer razão, deixar de governar São Paulo, quem tem de assumir? Alguém do PSDB, ou da coligação, óbvio. Por quê? Porque houve uma eleição majoritária que prestigiou essa coligação, e isso tem de ser respeitado. Essa eleição prestigiou um programa de governo, uma maneira de pensar, e não um indivíduo isolado. Eleições são pra isso.

9) E se eu acaso não gosto do PSDB? Eu tenho o direito de cobrá-lo, pressioná-lo, questioná-lo, e organizar minhas forças para vencê-lo. Mas politicamente, na negociação, no embate de interesses. Tirá-lo do poder, só daqui a quatro anos, quando houver nova eleição, se for do meu interesse e se eu conseguir que a maioria das pessoas concorde comigo. Democraticamente, pelo debate, pela organização, pela persuasão.

10) Passar por cima de tudo isso, de toda uma estrutura democrática que levou anos para ser construída, em nome de espasmos de tensão indignada causados pela leitura de postagens no Face é algo que estou tentando entender há algum tempo. Que está acontecendo com as pessoas? 
Eu entendo perfeitamente a mídia manipular sua cabeça pelos interesses dos grandes grupos econômicos. Eu não consigo entender você se deixar levar por tanta bobagem num momento em que a informação pode ser buscada, discutida, conferida e analisada como nunca fora antes.

São dias difíceis. Espero que as pessoas saibam o que estão fazendo.

2 comentários:

Unknown disse...

Bela reflexão, com clareza e presteza para o que se propõe.
Impedir alguém implica em processo, e particularmente neste caso, desencadeado no STF, com bases e fundamentos constitucionais. Penso que não vinga esse arroubo, como tantos outros propostos em redes sociais.

Claudia Alessandra Sumiregi Faria disse...

Desvio de atenção, chover no molhado e preparar uma "pizza" são algumas especialidades que aparecem mais no mundo Network, até porque não precisa assinar!