sábado, 22 de novembro de 2008

Arrependimento

O título da postagem provavelmente enganará o leitor. Não vou confessar nada, não vou tratar de nenhum assunto embaraçoso, nem vou rememorar titubeações que porventura tenham me tirado oportunidades valiosas.
Queria apenas refletir sobre o conceito que as pessoas fazem sobre arrepender-se.
Muitos gostam de um chavão bastante motivador para quem não pode mais mudar algo que incomoda. Esse chavão é a frase "não se arrependa de nada". Que pode ser substituída por outra, de valor semelhante: "só se arrependa do que você não fez". Geralmente, essas frases querem dizer "não olhe para o passado, porque não adianta" ou "bola pra frente", em contextos nos quais as pessoas lamentam oportunidades perdidas ou erros de avaliação que causaram prejuízos ou problemas.
O curioso é que conheci pessoas que usavam esse chavão, mas não para todos os casos. Por exemplo, quando alguém procurava conselhos amorosos por ter sacaneado seu (sua) parceiro (a), essas pessoas diziam: "vai lá e diz que você se arrependeu, que quer uma nova chance". Ou quando seus filhos faziam alguma sacanagem própria da idade, exigiam: "peça desculpas e mostre-se arrependido pelo que fez". Ou quando algum ex-amigo as procurava depois de uma pisada horrorosa na bola, comentavam com outros: "não sei se darei outra chance, não sinto que ele esteja arrependido". Nesses casos, raramente vi pessoas dizendo às outras coisas como "tente voltar com ela mas não se arrependa de nada" ou "peça desculpas pela traquinagem mas só se arrependa do que não fez" ou ainda "vou dar mais uma chance a esta amizade porque não acho que ele deva se arrepender de coisa alguma".
Parece-me, então, que não há regra universal para o arrependimento, ficando ele sujeito a conveniências e convenções de todo o tipo. Resolvi, por isso, respeitar os arrependimentos das pessoas, e parar com essa mania de querer que todo mundo erga a cabeça de imediato depois dos percalços da existência.
Eu me arrependo de muita coisa que fiz e que não fiz. Acho que me dou esse direito, entendendo que o que não é saudável é brecar o fluxo da vida para remoer as coisas que já não alcançamos. Mas até isso eu respeito, sinceramente. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato, e tem arbítrio para decidir a hora de trocá-lo.

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