O Oscar é uma festa estranha para mim. Lembro-me de não ter perdido praticamente nenhuma premiação desde que era pequeno. Sempre vejo, sempre aprecio a alegria dos vencedores, sempre fico imaginando o grande prazer que é estar ali. Mas acho esquisito porque, geralmente, assisto os filmes depois da premiação. Isso me obriga a "torcer errado", ou seja: às vezes, por causa do clima da festa, ou da comparação de semblantes, ou mesmo da lembrança de um um trabalho anterior de determinado artista, fico na expectativa de que alguém seja premiado, mesmo sem saber se merece ou não por aquele trabalho que concorre.
Foi o caso, por exemplo, do diretor Ridley Scott. Quando Gladiador ganhou como melhor filme, achei uma injustiça ele não ter recebido o prêmio de melhor diretor. Eu o associava a duas obras que muito me chamaram a atenção, Alien, o oitavo passageiro e Blade Runner. Eu queria que ele ganhasse.
Passado algum tempo, tive oportunidade de ver Traffic, de Steven Soderbergh, e também Gladiador. E cheguei à conclusão de que não só estava correto premiar a direção deSoderbergh, como também teria sido justo Traffic receber a estatueta de melhor filme. Scott, por certo, mereceria até o Oscar por outros filmes; não por Gladiador. E Soderbergh, de quem nada conhecia até então, sobrava na direção de atores e na condução da trama de seu filme.
Mas como eu poderia saber, sem ter visto nenhum dos dois e confiando apenas nos sucintos comentários da transmissão brasileira? É nessa situação que sempre me encontro quando atravesso a madrugada acompanhando a festa: escolho alguém com quem simpatize e torço para que ganhe o prêmio. Mas com um pé atrás, porque sei que posso me arrepender depois.
Este ano, por exemplo, fiquei feliz de ver tantos indianos recebendo prêmios por causa do Quem quer ser um milionário?. Eles pareciam simpáticos, e estavam radiantes (é gostoso ver a alegria alheia). Mas não vi o filme, não sei se é filme para oito Oscars, ou mais, ou menos. Torci por eles, sei lá por que razão, mas pode ser que os outros tenham sido melhores. Mais pra frente saberei.
O que pude confirmar, este ano - com certo atraso, bem sei - foi a injustiça da premiação de 1991, referente a 1990. Admito que Dança com Lobos é um filme bacana, bonito, com uma mensagem edificante. Nunca o vi como um filme para ganhar Oscars, quanto mais sete. Hoje, posso afirmar com tranquilidade: não dá para compará-lo a O poderoso chefão III. O filme de Coppola é muito melhor, mais dinâmico, mais questionador, mais profundo. Fecha com vigor, embora com menos impacto, a trilogia mais instigante do cinema moderno. Pude vê-lo esta madrugada, depois de ter revisto as partes I e II, de uma caixinha remasterizada que ganhei de presente.
Lembro-me de que essa cerimônia, de 2001, foi uma das poucas que perdi. Talvez tenha sido indignação posterior intuída. De qualquer forma, recomendo a fruição comparativa dos dois filmes, para quem quiser tirar a prova.
2 comentários:
Eu não acompanho tanto mais, se não fosse vinculado nas mídias de massa, confesso que eu nem saberia dos resultados porque dificilmente procuraria saber. Antes eu me interessava mais, ainda mais depois com todas as batidas na trave que os filmes brasileiros deram, e eu, como sempre fui muito xiita com essa coisa de nacionalismo, não queria nem saber de qualidade, torcia MESMO para os brasileiros, ou pelo menos para os de produção mais modesta.
Agora desisti, mas como não tem como não saber do que acontece em Hollywood, fiquei bastante curiosa com o "Quem quer ser um milionário", por ser indiano e também, claro, pela quantidade de premios recebido (mesmo não confiando em premiados do Oscar), e estou me programando pra assisti-lo essa semana.
Vai entender essa nossa resistência e, ao mesmo tempo, esse certo fascínio que a indústria cinematográfica nos causa.
ei... e vc chegou a ver "quem quer ser um milionário"?
eu vi semana passada, achei muitíssimo interessante, ainda estou me recuperando do choque das cenas...rs... é um realidade muito difícil para nós, ocidentais classe média. Daí pensei que tinha alguma coisa errada com a novela das 8, mas depois lembrei que os nossos filmes também são assim, uns (globo filmes) retratam a classe média brasileira, outros taaantos a realidade das favelas (que deve assustar muitos gringos tb) e o sertão e etc... não da pra captar a cultura de um lugar com uma obra aleatória...(o que também não impede de ter muita coisa "errada" na novela, ou pelo menos exagerada, ultrapassada, pelo o que eu pesquisei superficialmente).
mas voltando ao filme, achei a produção incrivel, a trilha, a temática, tudooo... no fim das contas ficou bem romancezinho mesmo, mas o que é que tem, adoro...rsrs. O amor falar mais alto e dar o tom da trama, não impediu que vários assuntos chocantes e polêmicos fossem abordados, ou de mostrarem a "verdadeira índia" como citaram.
ia comentar mais, mas não sei se você viu, não quero estragar a sua expectativa, rs...
Depois nos diga se acha que ele mereceu o principal premio do Oscar.
besos :)
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