Estou acordado de madrugada, como de costume. Mas hoje rola a trilha sonora perfeita: baladas pop dos anos 1980. Nenhum gênero musical é mais adequado à insônia solitária. Talvez porque a cama de teclados na maioria das músicas funcione como um abraço da solidão e do tédio, e as letras insistam em valorizar amores irrecuperáveis e momentos mal resolvidos. E há algo de sombrio nessa produção, mesmo quando se esmera em ser romântica. Eletrônica demais, artificial demais, patética demais e saturada nos arranjos, a canção dos 1980 cai como uma luva para momentos em que me pego revirando as cinzas da minha adolescência tímida, insegura e complexada.
Interessante que não lembro de ninguém em especial, nenhuma garota, nenhuma primeira namorada. Só do clima. E, por incrível que pareça, posso recuperar esse clima controladamente quando ouço essas músicas. Posso, inclusive, projetar as mesmas fantasias adolescentes de outrora ao dançar com alguém ouvindo clássicos dos 80, de rostinho colado. Gosto quando consigo fazer isso, deixa o namoro mais romântico, meu coração mais mole. Sem uma dosezinha de pieguice, é difícil dar asas à paixão.
Hoje ouvi "I want to know what love is", do Foreigner, música que jamais deveria ter sido regravada, em respeito à emoção da versão original. Fico todo empolgado quando toca "Against all odds", do Phill Collins. Parece que não dá para ouvir essa música sem ter alguém para se declarar. Revendo o clipe de "Self Control", da Laura Branigan, reparo o quanto meu gosto por vocais doces e melodias em tom menor foi influenciado pelas FMs da minha infância. E penso que o homem de máscara do vídeo tem tudo a ver com certas pirações eróticas e com meu medo da exposição pública. E penso ainda que a historinha do clipe dialoga, em certa medida, com a letra de "Menina Veneno", do Ritchie, uma das obras-primas do pop oitentista brasileiro (ainda vou fazer uma postagem só sobre essa música). Mas tem também "I just called to say I love you", de Stevie Wonder, umas das raras canções em que a voz digitalizada tem charme, ou "Arthur's Theme", do Christopher Cross, composta com uma inspiração que não aparece todo dia, ou a voz poderosa de Joe Cocker arrepiando em "Up where we belong", ou até mesmo a pérola da interpretação rasgada e melodramática, "Total Eclipse of the Heart", da singular Bonnie Tyler, canção que sonho um dia poder entoar com todas as nuances vocais.
Para encerrar a noite, a postagem, e a lista de sugestões, "True", do Spandau Ballet. Essa é irretocável: chorosa, suingada, bem cantada, com excelente dinâmica de arranjo e uma levada forte e doce, como se o impulso de amar encontrasse vazão perfeita para seu fluxo indômito.
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