Eu voltava para o apê perto da meia-noite e passei por uma banca de jornal da Avenida Paulista. Observava as revistas em exposição quando chegaram dois garotos, mais ou menos adolescentes, entre 18 e 21 anos. Pararam para ver a capa da revista Sexy, que se constituía de cinco modeletes de costas com as bundonas de fora. Os comentários foram engraçados: "- Aí, sim", "- Essas batem um bolão!". "- Isso é que é seleção de verdade".
A certa altura, um dos rapazes apontou com três dedos da mão três das modeletes e disse: "- Essa, essa e essa. As outras duas, só pegava se as três não quisessem".
Fiquei rindo sozinho até chegar em casa. Os sonhos do menino me inspiraram imaginar cenas divertidas. Pensei numa sequência de filme pornô: o rapaz magro, sonso e sem graça na piscina, com três moças nuas, ouvindo de uma quarta que se retira rebolando: "- Não suporto ser preterida assim. O que elas têm que eu não tenho?".
Também fiquei pensando comigo como é curioso o mundo em que vivemos, em que até nas fantasias eróticas é possível escolher os objetos como quem escolhe latas de tomate nas prateleiras. E em que qualquer cidadão em qualquer circunstância pode projetar pessoas de carne, osso e alma como meros objetos de consumo, e abstrair totalmente a existência de uma individualidade e de um arbítrio por detrás daquelas pessoas (ou daquelas bundas, que, em última análise, são partes do corpo de pessoas). Tomara que as falas sejam só bravata de meninos. Se não forem, coitadas das namoradas deles.
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