Não seria justo definir-me como um rato de livraria. Um rato de livraria é uma pessoa que passa longo tempo folheando livros, lendo capas, contracapas, capítulos, orelhas, tudo o que possa qualificar aquele material como importante ou desimportante. Um rato de livraria tem tempo, disposição e dinheiro para garimpar coisas boas e que valham a pena.
Eu não sou assim. Eu sou, na verdade, compulsivo para comprar livros. Eu não espero muito para decidir o que vou levar. Meu paladar não é apurado, quero experimentar de tudo um pouco, e acabo comprando mais do que posso ler, quase sempre, projetando que algum dia eu vá ter tempo de usufruir daquilo que adquiri.
Ao mesmo tempo, sendo professor, sou um assalariado brasileiro comum, com um salário bem distante dos mais altos do mercado. Isso me impede de comprar tudo o que vejo na frente: limito-me pelo bolso, não pelo exame atento da necessidade ou utilidade dos livros que quero. Sempre coloco na minha cabeça máximos a pagar por um livro, e dificilmente extrapolo essas determinações.
Mas como a compulsão não vai embora, a mente sempre encontra um subterfúgio para deixá-la aflorar. Esse subterfúgio no meu caso chama-se PROMOÇÃO. Sou um caçador de promoções de livraria. Entro na Nobel, na Saraiva, na Martins Fontes, e já vou direto farejando o que está abaixo do preço normal. E aí, perco a cabeça.
A última foi na Livraria Nobel do Shopping Frei Caneca. Tinha alguns minutos para perambular por lá, andei um corredor, andei outro, e de repente, pimba! Estante da promoção: todos os livros por dois reais. Aquela vozinha da consciência espetou minha orelha para dizer "controle-se, Vinicius, não vá fazer nenhum abuso, há contas a pagar e você está quase sem tempo de ler até mesmo o que você usa nas aulas". Era verdade. Decidi ser racional, dar vez ao meu bom senso. Prometi que não me excederia de maneira alguma. Combinei comigo mesmo que só levaria o imprescindível, o que estivesse tão inacreditavelmente barato e fosse tão relevante que não poderia ser deixado ali sem arrependimento.
O resultado? Treze livros comprados, com promessa e tudo. Total de R$ 27,00 (tinha um de três reais). Excelente aquisição, sem dúvida (João Cabral de Mello Neto, Cartas do Carlos Lacerda, livros sobre autonomia na escola, coisas bem legais). Mas a pergunta que não quis calar quando cheguei com tudo aquilo em casa era: você vai ler todos? Vai ter tempo de pelo menos sapear cada um deles? Ou vai deixar tudo na estante esperando o dia do juízo?
Sinceramente, é improvável que eu os leia todos de capa a capa. E creio que alguns deles eu nunca compraria se não estivessem em promoção. Foi mais um ato impulsivo de um leitor omnívoro, um desejo irrefreável de, como diz a canção de Caetano, "guardar o mundo em mim". Penitencio-me nesta postagem. Tenho de mudar.
Mas ainda não consigo me arrepender. Duro, né?
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