Às vezes eu aparecia em casa com uma novidade amorosa, e as pessoas, como bem se sabe, logo espalhavam aos quatro ventos. Eu era tímido e sensível, e, por consequência, muito recatado em relação aos meus relacionamentos. Meus amigos não eram nada disso. Fazia parte da masculinidade falar e falar e falar, e contar vantagens tanto quanto possível. Então, pode-se imaginar o rol de perguntas que eram constantes nessas situações:
- E aí, já comeu?
- Ela é gostosa?
- Ela tem um bundão? Ela tem peitão?
- Ela faz de tudo?
- Ela tem ciúme de você?
- Ela se veste bem?
- A família dela aceitou normalmente? A família dela é liberal?
- Ela tem grana?
E outras afins, que durante algum tempo acreditei serem uma forma razoável de medir as aspirações em relação a uma garota.
Acreditei, mas no fundo nunca aceitei. Algum anjo torto me fez diferente, e a verdade é que nunca me fizeram as perguntas certas, que não eram essas. As perguntas certas, que ninguém me faria, eram as que eu, no fundo, me fazia todas as vezes, porque nunca gostei realmente de "garotas", e sim de mulheres. Eu queria que me perguntassem:
- Como ela trata você? Como um namorado, um bibelô, ou um ser humano, digno de elogios e broncas?
- Ela se dispõe a dividir coisas, opiniões, a conceder, a ser razoável?
- Ela trabalha em algo admirável, construtivo, bacana? Ela defende causas nobres, luta por pessoas indefesas, protege seus familiares e dependentes?
- Ela acredita em seu próprio potencial como pessoa, e em sua personalidade, mais que em sua imagem pública, para ser atraente?
- Ela é carinhosa? Ela aceita que você seja carinhoso?
- Ela compreende quando você chora, e sabe acalmar quando você se enerva?
- Quando ela quer alguma coisa, ela vai atrás, ou fica esperando você descobrir que ela quer?
- Quando ela gostou de você, ela teve a firmeza de assumir isso sem joguinhos?
- O que ela faria se você não manifestasse interesse a princípio? Desisitiria, ou insistiria?
- O que ela faria se não tivesse interesse em princípio? Esnobaria, ou seria clara, sincera e, ainda assim, delicada?
- Você sente que poderia perdoá-la por qualquer coisa que ela fizesse, sem ressentimentos?
- Você deixaria de fazer algo muito estimulante para não magoá-la, não porque sinta que ela descobriria, mas porque sente que ela não merece?
- Ela é capaz de encarar fases ruins? De manter um laço de ternura e respeito com você mesmo quando o sexo, o stress cotidiano e a rotina tornaram-se problemas?
Por fim, a maior perguntas de todas: - Você teria vontade de ter filhos com essa mulher?
Não, ninguém entenderia isso. E ninguém entenderia que essas perguntas não implicavam, em nenhum momento, um vínculo institucional, como o casamento, ou sequer a busca disso. Porque o amor, a admiração, a percepção de que alguém é especial, independe da sorte de ter essa pessoa a seu lado. Uma grande mulher não precisa gostar de você, ela só precisa ser o que é, com integridade. Se eu tivesse levado a sério as perguntas certas; ou melhor, se eu simplesmente tivesse conseguido formulá-las conciente e explicitamente, teria sido muito mais homem, e muito mais digno das mulheres que me amaram e que eu amei no decorrer da minha vida. Hoje, arrogo-me a intenção de transformar esse "se" em "sim", manter-me amando apesar de meus erros, e ser digno do amor de quem sempre esteve ao meu lado.
Hoje é o Dia Internacional da Mulher, e eu gostaria de deixar claro, nesta postagem, o quanto admiro, amo e respeito as mulheres de minha vida (minha esposa, minha mãe, minha irmã, minha sobrinha), as mulheres que conviveram comigo e as mulheres em sua generalidade, para além dos meus interesses imediatos ou da função que o mundo - ainda machista - lhes atribuiu.
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Homenagem mais bela e tocante é a do meu amigo Flávio Mello, nesta indefectível postagem.
Vale conferir.
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