Dia 7 de setembro é data em que pessoas de todo o Brasil comemoram ou protestam, projetando e desejando um país melhor. Um anseio dessa ordem é sempre justo e benéfico. Mas não fico contente quando pessoas se utilizam desse anseio como guarda-chuva ideológico para falar mal do Brasil, como se não vivessem aqui ou não tivessem nenhuma relação com a nação e sua cultura.
Li recentemente alguma coisa sobre a Jante Law, conjunto de princípios que regem as relações humanas em países nórdicos europeus - aqueles que são considerados os mais felizes e tranquilos do mundo. Entre as muitas ideias interessantes que considero válidas para qualquer sociedade, tomei como aforismo uma em especial: "Não pense que você é melhor do que nós". Um pouco de bom senso e de atenção a essa constatação quase elementar sobre a natureza humana seria o suficiente para que muitos brasileiros nos poupassem das coisas estúpidas que dizem sobre meu país.
Eu não consigo mais levar a sério quando as pessoas dizem: no Brasil, nada funciona; os americanos é que são isso; os japoneses ou alemães ou italianos é que são aquilo; e coisas do gênero. Eu não consigo conceber que as pessoas ainda acreditem que corrupção, violência, tráfico ou incivilidade sejam problemas inexistentes nas sociedades que consideram melhores que a nossa. Eu não engulo quem sai do Brasil, fica lá fora um tempão, ganha dinheiro, e fica dizendo que o país não vai pra frente, que não tem vínculo com sua pátria, e coisas do tipo.
Eu nasci neste país, eu cresci nesta cultura, eu falo esta língua, eu aprendi a ser o que sou com estas pessoas. Sou louco pela música brasileira, pela culinária brasileira, pela natureza brasileira. As mulheres do Brasil são lindas, as pessoas do Brasil são acolhedoras, o ritmo do Brasil é cativante. Desejo um dia visitar Nova York, Paris, Cairo, sei lá, tantos lugares!, mas eu ainda serei filho desta experiência aqui, destes valores, desta forma de ver e viver o mundo, com muito orgulho.
Eu não tenho vergonha do meu país. Tem gente que considera o máximo tornar-se europeu ou americano ou construir a vida em outro lugar. Respeito as decisões de cada um, mas tenho convicção de que viver aqui ou em outras bandas implica as mesmas etapas de toda a experiência humana: trabalhar, criar relações, cuidar da família etc. E essas coisas podem dar certo ou não no Brasil ou em qualquer outro canto do planeta. Mas muitas pessoas não entendem assim, e acham que quem conseguiu sair do Brasil tem maior valor ou competência que quem ficou.
Por favor, se você não gosta do Brasil, não fale mal dele. É ridículo. Bem ou mal, foram estas águas e estes ares, e estes pratos de arroz com feijão e farinha, que puseram você em pé antes que sequer sonhasse em alçar outros voos. O Brasil não é o que passa no jornal de televisão, e nem o que a elite pensa do povo que trabalha para ela. Meu país é Minas, Rio, Bahia, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pará, Ceará, Pernambuco. É gente demais para generalizar de forma tão redutora e mal-intencionada. É mediocridade demais achar que toda essa gente é má, ou inferior, ou ingênua.
O Brasil não deveria ser, para as pessoas, essa concepção vazia, fabricada pela superficialidade e pelo descompromisso ético de parte da sua elite, que dá margem a todo tipo de preenchimento ideológico pejorativo. Conhecer o Brasil deveria significar, para quem insiste em falar mal de nós e de si mesmo, uma forma de conhecer o sangue que corre nas próprias veias e a sustância que orienta o próprio estar no mundo.
Eu não fui a nenhum desfile no 7 de setembro. Mas, ao pensar com carinho e profundidade no Brasil, eu fui fundo no que sou, e o orgulho que senti de me saber parte desta nação vale a empunhadura de uma bandeira, em qualquer parte do mundo, em qualquer momento da vida.
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