No grupo em que eu estava, no Encontro dos Blogueiros, estavam Rodrigo Vianna e Lola, do Escreva, Lola, Escreva: gente de peso. A discussão foi muito produtiva, com cada um apresentando seu blogue e a temática a que se dedica.
A certa altura, uma moça, cujo nome me falha, fez uma cobrança interessante. Ela apontou para o fato de haver poucos blogues ligados a movimentos sociais, a lutas de comunidades, a demandas da população carente. Ela disse que se ressentia disso, e achava que, sem esses blogues, acabaríamos sendo uma elite escrevendo para a elite.
Não tenho certeza de que sejamos exatamente assim, pois conheci, no encontro, muitas pessoas simples que blogam e leem com frequência, e estão preocupadas com vários assuntos da comunidade, da política e das lutas locais. Mas, concedendo que isso seja parcialmente verdadeiro, porque a blogosfera de fato não tem tanta variedade desse cardápio politizado e atuante, pensei comigo mesmo se isso não aconteceria por terem sido os blogues, a princípio, criados para funcionarem como diários pessoais, com postagens mais intimistas e opinativas.
Depois, retomei criticamente esse pensamento, admitindo que é possível fazer zilhões de coisas com as plataformas dos blogues atualmente, e me perguntei se, ao pensar assim, eu não estaria me defendendo de ter um blogue pessoal, intimista, opinativo e totalmente individual, em que nada ou quase nada até hoje foi dito sobre lutas sociais ou movimentos de comunidade.
Sim, eu estava me defendendo, porque a carapuça servira perfeitamente. Mas, por outro lado, eu estava aprendendo a reconhecer quem sou por um processo de espelhamento no outro. Todas essas virtudes de engajamento, que tanto admiro em tantos blogueiros, parecem ser carências no meu caso, por mais que eu tantas vezes explicite minhas posições políticas. Devo admitir que uso este espaço e o dos outros blogues que escrevo de maneira autocentrada, individualista, egocêntrica. Uma vez, meu primo me pediu para escrever comigo um blogue de poemas (na verdade, para dividirmos um blogue que eu já escrevia). Eu não aceitei, embora a proposta fosse de fato bacana e rica. Não aceitei porque queria ter controle total, e queria que o blogue expressasse as minhas ideias poéticas e de mais ninguém. Eu queria ver o blogue assim, nem que isso implicasse empobrecê-lo. Eu queria que o blogue fosse meu mundo e nada mais, como na canção de Guilherme Arantes.
Numa outra oportunidade, meu irmão de criação criou um blogue com excelentes ideias de protesto e política e pediu que eu o levasse adiante. Simplesmente não consegui. Não pude criar nada nesse contexto, porque a linha de redação não havia sido definida por mim. E olha que eu concordava com ela quase absolutamente! Mas a questão era outra: não era um espaço só meu, no qual eu estabelecesse as perspectivas de análise, a frequências das postagens, a relevância dos temas. Só isso bastou para que a excelente iniciativa dele ficasse atolada na minha inércia mental.
E por que isso? Não sei bem. Talvez seja a gigantesca necessidade confessional que tenho, num fluxo que não admite interrupções. Talvez seja uma dificuldade de dialogar e trocar ideias, o medo de ser suplantado, de ser questionado, de perceber-se irrelevante diante das preocupações e sacadas dos outros. Talvez eu seja mesmo uma pessoa egoísta, sei lá! A verdade é que alguém por certo oferecerá essa perspectiva militante, atuante e engajada em seu blogue, com espaços de escrita coletiva e abertura para postagens de informação e denúncia. Mas não serei eu. Não sei fazer assim. É uma limitação, sim. E devo aprender a enfrentá-la, a confrontá-la com a realidade de blogueiros como os que conheci no encontro, ao invés de defendê-la com racionalizações justificadoras.
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