Ontem meu irmão me falou que a nova onda nos meios literários é um tal de microconto, nada mais que uma pequena história contada em menos de 240 toques, se não me engano. É interessante, mas isso não tem nada de novo.
Quem, como eu, teve a curiosidade e oportunidade de apreciar a força da escrita de Sérgio Sant'Anna em Notas de Manfredo Rangel, repórter, (a respeito de Kramer), de 1974, deve ter se impressionado com a maestria com que são contadas as pequenas histórias de amor presentes no conto "Romeu e Julieta", um dos 21 que compõem o livro. Se não me engano, dando uma fuçada no Google, dá para achar algumas delas.
Eu não sei bem o que é essa onda de microcontos, mas se a questão é apenas o tamanho e o poder de concisão, Sérgio é, sem dúvida alguma, o precursor mais ilustre disso. Minha dissertação de mestrado foi a respeito do Notas, e lembro bem que, ao analisar o conto que sugeri acima, cheguei a grafar essa classificação (microcontos) e mostrar ao meu orientador. Lembro de ele ter me dito para não usá-la, porque não era consagrada pela tradição, nem muito precisa do ponto de vista da terminologia. Risquei, e acabei nem aproveitando na redação final o que tinha escrito. Ficou lá, nas minhas anotações, nesses arquivos não publicados perdidos nos back-ups da vida. Como não publiquei, não posso dizer oficialmente que antecipei a configuração do gênero. Posso apenas brincar interiormente com aquela história do "tá vendo,eu já sabia!", e ficar elocubrando sobre minha dissertação ter sido mais lida se eu tivesse achado um jeito de incluir a análise do "Romeu e Julieta".
Mas não quero chamar a atenção para minhas sortudas intuições de análise, e sim para as competentes intuições de escrita de Sérgio. Que pelo menos reconheçam a primazia dele, a capacidade de buscar e enformar a concisão máxima de enredo num tempo em que nem se sonhava com internet, tuíter, e essas coisas.
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