sábado, 11 de maio de 2013

Como perder minha consideração

Este texto não é aviso nem alerta para ninguém, e nem pedido, e nem afirmação positiva das minhas idiossincrasias. O sentido deste texto é lamentoso. Infelizmente, não tenho desenvolvida ao nível mais justo a capacidade de perdoar as pessoas, e muitas delas, em função disso, acabam enfrentando minha ira, o que é menos mal, e posteriormente o meu desinteresse, o que é lamentável, mas factual. 

Há coisas em mim relacionadas a complexos, carências e medos que pude perceber conforme aprendi que tenho de escolher o que melhorar, visto que não se pode ser bom em tudo, e às vezes convém lutar para ser bom em pelo menos alguma coisa. Assim, há situações com as quais simplesmente não sei lidar, provavelmente não aprenderei a fazê-lo e, sinceramente, não serão minhas prioridades para as próximas etapas da vida. Dou-as ao conhecimento dos que nutrem alguma simpatia ou carinho por mim. 

1 - Não suporto futilidade como opção de vida. 

Será muito difícil que eu mantenha uma amizade de longo tempo com alguém que não tenha, nem que seja em dose mínima, profundidade e interesse em temas reflexivos. Não adianta, não sei lidar com quem não tem problemas. Na verdade, talvez isso derive da minha crença de que todos temos problemas, só que temos a opção de mascará-los ou procurar crescer por meio deles. Se sinto que uma pessoa não tem nenhuma outra preocupação em sua vida a não ser obter mais prazer e alienação para ter de se sentir menos responsável pelo que é e pelo mundo em que vive, eu posso respeitá-la, mas dificilmente conseguirei conviver com ela. E isso, bem sei, é enorme fator de isolamento para mim. 

2 - Não aguento maldade. 

Todos temos nossos momentos de pequenez, mesquinhez, vileza, e isso não é de todo mau, porque nos faz ficar alerta para os perigos gerados por esses comportamentos. Há, entretanto, pessoas que têm enorme prazer na maldade, a ponto de protegê-la com mil justificativas toscas, ou mesmo camuflando-a. Não sei lidar com isso. Na verdade, morro de medo dessas pessoas, pois enfrentá-las exigiria de mim certa dose de agressividade que não é fácil liberar. Assim, não sou a criatura mais indicada para o trato político, ou para o enfrentamento de pessoas claramente mal intencionadas. Isso me torna em grande medida covarde diante de injustiças, mas não menos indignado. 

3 - Não gosto de ser menosprezado ou ridicularizado ostensivamente. 

Parece uma coisa óbvia, mas para mim é mais complicado que para as outras pessoas. Dizem que quem tem alma de artista é carente por natureza e demanda ser querido por todos. Tenho um pouco disso, mas tenho também uma forte aversão a quem tira sarro da minha cara ou me despreza ostensivamente. E essa última palavra é importante. Porque uma brincadeira irônica ou uma crítica bem colocada e utilizada para expressar uma preocupação são normalmente bem-vindas (nem sempre, confesso). Mas um discurso agressivo com a finalidade de diminuir o que sou, é intragável, por mais sutil que queira soar. E tanto mais intragável quanto mais demandar o contexto de um público igualmente venenoso. Quer me criticar? Fale comigo primeiro, e com jeito. Não me humilhe diante dos outros, porque isso não me ajuda em nada.
Dentro deste tópico, deve incluir também as situações em que pessoas humilham outras pessoas com a simples preocupação de parecerem melhores ou mais inteligentes ou qualquer porcaria do tipo. Mesmo que essas situações não aconteçam comigo, eu as tomo como pessoais, e fico decepcionado com quem agiu dessa forma. Lembro bem de uma pessoa que me contou, há muito tempo, que escrevia livros de autoajuda, e ganhava dinheiro com isso, mas considerava os que liam seus livros como "idiotas". Lembro claramente do riso de superioridade que sucedeu essa afirmação, o último de qualquer conversa que com ela tive.

4 - Não gosto de que me acusem de algo que não fiz 

Na verdade, não gosto que me acusem de nada, mesmo do que eu tenha feito realmente. Mas em relação ao que não fiz, é ainda pior. Se a pessoa age assim por ignorância, tendo a me afastar dela até que outras atitudes revelem que ela se arrependeu ou reconheceu o erro. Se ela me acusa de forma falaciosa intencionalmente, nesse caso afasto-me em definitivo dela, e não há volta: ela perde tudo o que construiu comigo. Sim, sei, preciso ser menos radical, mas é como acontece comigo, infelizmente. 

5 - Não gosto de que critiquem meu corpo 

Tive grandes dificuldades na vida para me aceitar do jeito que sou, e houve fases em que não tive condições físicas, financeiras e materiais de zelar por minha aparência tanto quanto deveria. Numa sociedade baseada em imagem, isso acaba sendo pior do que bater na própria mãe. Tenho por princípio falar apenas do que vejo de belo nas pessoas, porque sei que o mundo as cobra demais nesse sentido. E porque sei que há muitos tipos de beleza que não são valorizados, e são justamente os que singularizam as pessoas no que elas têm de melhor. Acabou se transformando, para mim, em índice do nível de idiotice de uma pessoa a tendência que ela apresenta por medir as outras em padrões que são os dela (e que, diga-se de passagem, ela mesma via de regra não sustenta). Quer perder pontos comigo? Fale da minha barriga, da cor da minha pele, do bagunçado dos meus cabelos, das imperfeições do meu rosto, das minhas olheiras. Não gosto disso, nem de brincadeira, e não faço com ninguém. Constrangi muitas pessoas por causa dessa postura, mas ainda sou inseguro, e creio que isso não mudará tão rápido. 


Enfim, são esses meus limites de tolerância para pessoas à minha volta. Quero finalizar dizendo que muitas vezes eu mesmo faço com os outros o que não suporto que seja feito comigo, e fico muito desgostoso quando percebo isso. Mas fico feliz de saber que as pessoas são mais fortes e seguras do que eu, porque elas me perdoam em situações nas quais eu não consigo, ainda, perdoar quem me magoou. É parte do meu aprendizado na vida observar como elas conseguem fazer isso, e tentar fazer da mesma forma, tanto quanto possível.