segunda-feira, 26 de julho de 2010

Agruras na academia

Entre as promessas que se tornaram obrigações em 2010, inclui-se a de fazer exercícios físicos com constância, visto que minha saúde abrira o bico no início do ano citado. Lá fui eu fazer matrícula na ACM, num plano sem musculação, mas com direito à piscina - o que basta para minha alegria.
Fazia muito tempo que eu não nadava nem praticava hidroginástica. Mas fazia mais tempo ainda que eu não usava um vestiário masculino. Parece que desabituei.
Semana passada, esqueci de levar toalha e chinelo. Emprestaram-me o chinelo, mas tive de alugar uma toalha na rouparia, preço simbólico. Era uma toalha branca. Fiz a aula de hidro, relaxei, flutuei, desencanei de tudo. Voltei para o vestiário, abri o armário, peguei a malfadada toalha branca, fui aos chuveiros, pendurei-a num gancho, e aproveitei o prazer indescritível da ducha quente no corpo cansado. Mas na volta...
Na volta reparei que havia uma toalha branca ao lado da minha toalha branca - ou melhor, da toalha branca que eu tinha de devolver na rouparia. Fiquei olhando para elas uns 30 segundos, hesitando, e as pessoas devem ter pensado quão grande, profunda e enigmática reflexão estava eu fazendo sobre a natureza e a filosofia das toalhas. Finalmente, cheguei ao ápice do enlevo com uma conclusão estarrecedora: eu não sabia qual das duas era a minha. Situação incômoda, mas que não poderia conduzir à imobilidade; afinal, eu teria de devolver alguma coisa para a instituição.
Com uma vergonha imensa, perguntei aos que ainda estavam no chuveiro quem trouxera uma toalha branca. Manifestou-se um senhor, que gentilmente saiu do quente da água para desfazer o nó perceptivo em que eu me enredara. Mas a questão era mais complicada do que parecia, muito mais, porque rapidamente ele caiu no mesmo estado contemplativo diante das toalhas penduradas, sustentando a concentração por um tempo igualmente longo, até admitir que também não conseguia identificar qual era a minha e qual era a dele.
Naquele momento eu fiquei aliviado em saber que não sou o único distraído do mundo. Escolhi uma delas, e disse ao senhor que a utilizaria e devolveria ao roupeiro, esse sim, com instrumental intelectual suficiente para desfazer o engano em que nos embananáramos. Disse ainda que retornaria para avisar.
Não sou uma pessoa melindrosa, mas confesso ter torcido para acertar dessa vez, porque não me parecia das melhores e mais recomendadas atitudes do mundo usar coisas de pessoas que não conheço. Dei sorte, deu tudo certo. Quando estava indo embora, o roupeiro mostrou a marquinha da ACM perto da etiqueta, suficiente para esclarecer qualquer dúvida a respeito da propriedade daquele item. Voltei ao vestiário, avisei o senhor, e fui para casa.
Dei boas risadas pensando no caso. Coisa de quem tem cabeça na Lua. Só eu mesmo.
Mas, se eu achava que tomaria a linha depois dessa, muito me enganava a meu respeito. Pois não é que aprontei outra? Voltei da aula da hidroginástica e fui direto ao armário onde deixara as minhas coisas, o 183. Peguei a chavezinha e fui abrir o cadeado, mas não consegui. Então pensei: - Bobão, é o 182. Mas ele estava vazio. Fui ao 184, e o cadeado era de outra marca. Pensei então: - Acho que guardei minhas coisas na outra fila de armários. Mas fiquei constrangido de testar a chave em todos eles, porque havia pessoas se trocando. Nesse momento, caí naquele mesmo estado de profunda reflexão filosófica, desta vez a respeito de armários e cadeados, e disse para mim mesmo, com toda a franqueza e dignidade do mundo: - Não lembro onde coloquei minhas coisas.
Isso deve ter ficado tão explícito na minha cara de paisagem que um dos senhores perguntou-me se eu precisva de ajuda. Contei meu drama, e ele riu, como mais tarde eu mesmo faria ao pensar naquela embaraçosa situação. As pessoas me olhavam com ar engraçado. Eu não sabia o que fazer no meio daquele monte de gente; estava realmente envergonhado.
E então, surgiu a personagem que poderia me tirar daquela crise, o rapaz que cuida do vestiário, e que devia estar acostumado com coisas do tipo. Ele me pediu a chave e foi testando armário por armário, coisa que não pdoeria ser feita por mim sem irritar os outros usuários. Eu achava que o meu era um armário perto da porta, de numeração menor, o que o obrigou a passar por três fileiras diferentes com a chavezinha testando a compatibilidade dos cadeados sem sucesso. Mas eu estava absurdamente enganado, o meu era lá do outro lado. Qual não foi meu alívio ao vê-lo abrindo o cadeado do 202, beeeeeem longe de onde eu pensava estarem minhas coisas. Agradeci meio sem jeito, peguei o que ali guardara, me vesti e voltei para casas com mais uma piada sobre minha cabeça de vento. E não duvido de que ainda venham outras. Fazer o quê?

domingo, 25 de julho de 2010

Poema e mais

A partir de agora, quando escrever algo de interessante nos outros blogues, vou postar o link neste.
Assim, fica mais fácil comentar a produção e até entender melhor o que estou sentindo em determinados momentos.
Esta semana, escrevi este poema. Curtinho, mas honesto.
Escrevi também algo sobre o maior dos prazeres da vida. Curtinho também, e mais honesto ainda!
Até!

domingo, 11 de julho de 2010

Balanço da Copa do Mundo da África do Sul - 2010

1 - A Alemanha fez as partidas mais brilhantes da Copa do Mundo, mas não foi brilhante em todas as suas partidas. A Espanha, em todos os seus jogos, foi melhor que seus adversários (inclusive na derrota contra a Suíça). Portanto, não há como não dizer que não tenha sido a melhor seleção. Isso nos leva a uma boa constatação, do ponto de vista do esporte: venceu o melhor.

2 - A Holanda também merecia o título, não só pelo que apresentou em 2010, mas pela bela história em Mundiais. Admitamos: um pouco mais de sorte e pontaria e poderia ter levado desta vez. Mas haverá muitas outras. Se isso serve de consolo, lembremos que o Brasil também tem sua pendência com a História, que é a medalha de ouro olímpica no futebol.

3 - A arbitragem nesta Copa foi simplesmente horrorosa, e a FIFA tem de rever imediatamente a reticência que tem em relação ao uso da tecnologia.

4 - Talvez em função da ruindade da arbitragem, esta edição foi marcada por um futebol feio, violento, truncado em grande número de partidas e, infelizmente, também na partida mais importante, a final. Bateu-se muito, puniu-se pouco.

5 - Na minha opinião, essa violência acabou sendo decisiva para a eliminação do Brasil no Mundial. Porque, para mim, essa eliminação começou a ser construída quando o carniceiro marfinense simplesmente inutilizou Elano para o resto do evento. Elano teria sido fundamental naquele jogo contra a Holanda. Seria o cara da bola no chão, da distribuição inteligente, do equilíbrio emocional (porque quem não consegue controlar o jogo é que entra em desespero, embora a mídia tenha batido na tecla do inverso: que quem entra em desespero não consegue controlar o jogo; para mim, sem tática, não tem cabeça que não se irrite).

6 - O Brasil perdeu porque a Holanda foi mais time. Mas o Brasil não estava tão aquém assim, nem da Holanda, nem da Espanha, nem de ninguém. Dava pra ganhar, dava pra perder. Pesaram as contusões, a falta de padrão tático consistente, e limitações de talento desta geração, que não é, definitivamente, extraordinária como outras, campeãs ou não.

7 - Dunga fez, nesses quatro anos, mais do que eu esperava dele. Foi um bom trabalho, no todo. Não sei se outro técnico conseguiria tirar mais do grupo de Dunga, ou chegaria ao título contra seleções que tinham, no mínimo, tantos bons jogadores quantos os nossos.

8 - Craques e gênios são para vender ingressos e saciar imaginários na sociedade do espetáculo. O que ganha é o conjunto, e isso ficou provado em definitivo em 2010. Messi, numa Argentina desorganizada, faz muito barulho e pouco efeito. É melhor ter um Puyol numa Espanha bem armada, ou um Ozil sabendo o que tem de fazer no esquema alemão. Um jogador genial pode ser decisivo, mas um time bem armado de jogadores bons, ainda que não geniais, é sem dúvida preferível, por ser mais efetivo. No futebol, ganha a equipe, perde a equipe.

9 - E se a equipe funciona, o jogador de quem nada se esperava pode brilhar e mostrar-se tão decisivo quanto o gênio ou o craque. Na verdade, ele pode até mostrar que é também um craque. Vide o menino Muller, da Alemanha.

10 - O polvo Paul deveria ser contratado pela televisão para ficar no lugar dos comentaristas. Ele não enche o saco do espectador com coisas inúteis e não erra palpites nunca. Nenhuma emissora tem um cara assim.

11 - Eu quase completei meu álbum de figurinhas da Copa. Como os álbuns estão bonitos ultimamente! Figurinhas brilhantes, acabamento gráfico impecável, tudo de primeira. Faltam 81 figurinhas. Ao fim, terei um souvenir belíssimo do evento, coisa fina. E que me serviu para ficar mais próximo dos alunos, e conhecer muita gente bacana por aí.

12 - Só de ser o campeão uma seleção que nunca tinha levantado o caneco, já estou feliz.

13 - Eu sou mais azarão que o Mick Jagger. Acho que das quartas-de-final para frente, não ganhou nenhuma seleção para a qual eu torcesse. Nenhuma, juro por Deus. (Guardei o item 13 para este comentário por superstição.)

14 - Não tenho raiva do Felipe Melo, nem do Dunga, nem do Julio César, nem de ninguém. Precisamos acabar com isso. O Brasil não pode jogar com a obrigação de ganhar, senão acontece o que aconteceu: não sabe reagir quando a derrota é iminente. Devíamos ter entrado na Copa para jogar, correndo o risco de ganhar. Porque o único risco é ganhar; perder já é praticamente garantido. Mas nós entramos na Copa para ganhar, correndo o risco de perder, e isso nos leva a esquecer... de jogar! Haverá outras Copas, haverá outras oportunidades, perderemos umas tantas, ganharemos mais algumas. E um dia, quem sabe, aprenderemos que os outros, no esporte, também existem e também querem vencer. Essa é a graça da competição.