domingo, 11 de julho de 2010

Balanço da Copa do Mundo da África do Sul - 2010

1 - A Alemanha fez as partidas mais brilhantes da Copa do Mundo, mas não foi brilhante em todas as suas partidas. A Espanha, em todos os seus jogos, foi melhor que seus adversários (inclusive na derrota contra a Suíça). Portanto, não há como não dizer que não tenha sido a melhor seleção. Isso nos leva a uma boa constatação, do ponto de vista do esporte: venceu o melhor.

2 - A Holanda também merecia o título, não só pelo que apresentou em 2010, mas pela bela história em Mundiais. Admitamos: um pouco mais de sorte e pontaria e poderia ter levado desta vez. Mas haverá muitas outras. Se isso serve de consolo, lembremos que o Brasil também tem sua pendência com a História, que é a medalha de ouro olímpica no futebol.

3 - A arbitragem nesta Copa foi simplesmente horrorosa, e a FIFA tem de rever imediatamente a reticência que tem em relação ao uso da tecnologia.

4 - Talvez em função da ruindade da arbitragem, esta edição foi marcada por um futebol feio, violento, truncado em grande número de partidas e, infelizmente, também na partida mais importante, a final. Bateu-se muito, puniu-se pouco.

5 - Na minha opinião, essa violência acabou sendo decisiva para a eliminação do Brasil no Mundial. Porque, para mim, essa eliminação começou a ser construída quando o carniceiro marfinense simplesmente inutilizou Elano para o resto do evento. Elano teria sido fundamental naquele jogo contra a Holanda. Seria o cara da bola no chão, da distribuição inteligente, do equilíbrio emocional (porque quem não consegue controlar o jogo é que entra em desespero, embora a mídia tenha batido na tecla do inverso: que quem entra em desespero não consegue controlar o jogo; para mim, sem tática, não tem cabeça que não se irrite).

6 - O Brasil perdeu porque a Holanda foi mais time. Mas o Brasil não estava tão aquém assim, nem da Holanda, nem da Espanha, nem de ninguém. Dava pra ganhar, dava pra perder. Pesaram as contusões, a falta de padrão tático consistente, e limitações de talento desta geração, que não é, definitivamente, extraordinária como outras, campeãs ou não.

7 - Dunga fez, nesses quatro anos, mais do que eu esperava dele. Foi um bom trabalho, no todo. Não sei se outro técnico conseguiria tirar mais do grupo de Dunga, ou chegaria ao título contra seleções que tinham, no mínimo, tantos bons jogadores quantos os nossos.

8 - Craques e gênios são para vender ingressos e saciar imaginários na sociedade do espetáculo. O que ganha é o conjunto, e isso ficou provado em definitivo em 2010. Messi, numa Argentina desorganizada, faz muito barulho e pouco efeito. É melhor ter um Puyol numa Espanha bem armada, ou um Ozil sabendo o que tem de fazer no esquema alemão. Um jogador genial pode ser decisivo, mas um time bem armado de jogadores bons, ainda que não geniais, é sem dúvida preferível, por ser mais efetivo. No futebol, ganha a equipe, perde a equipe.

9 - E se a equipe funciona, o jogador de quem nada se esperava pode brilhar e mostrar-se tão decisivo quanto o gênio ou o craque. Na verdade, ele pode até mostrar que é também um craque. Vide o menino Muller, da Alemanha.

10 - O polvo Paul deveria ser contratado pela televisão para ficar no lugar dos comentaristas. Ele não enche o saco do espectador com coisas inúteis e não erra palpites nunca. Nenhuma emissora tem um cara assim.

11 - Eu quase completei meu álbum de figurinhas da Copa. Como os álbuns estão bonitos ultimamente! Figurinhas brilhantes, acabamento gráfico impecável, tudo de primeira. Faltam 81 figurinhas. Ao fim, terei um souvenir belíssimo do evento, coisa fina. E que me serviu para ficar mais próximo dos alunos, e conhecer muita gente bacana por aí.

12 - Só de ser o campeão uma seleção que nunca tinha levantado o caneco, já estou feliz.

13 - Eu sou mais azarão que o Mick Jagger. Acho que das quartas-de-final para frente, não ganhou nenhuma seleção para a qual eu torcesse. Nenhuma, juro por Deus. (Guardei o item 13 para este comentário por superstição.)

14 - Não tenho raiva do Felipe Melo, nem do Dunga, nem do Julio César, nem de ninguém. Precisamos acabar com isso. O Brasil não pode jogar com a obrigação de ganhar, senão acontece o que aconteceu: não sabe reagir quando a derrota é iminente. Devíamos ter entrado na Copa para jogar, correndo o risco de ganhar. Porque o único risco é ganhar; perder já é praticamente garantido. Mas nós entramos na Copa para ganhar, correndo o risco de perder, e isso nos leva a esquecer... de jogar! Haverá outras Copas, haverá outras oportunidades, perderemos umas tantas, ganharemos mais algumas. E um dia, quem sabe, aprenderemos que os outros, no esporte, também existem e também querem vencer. Essa é a graça da competição.

Um comentário:

manu gomes disse...

Perfeito! É exatamente o que eu acho... as vezes esquecemos que apesar de todos os esforços, existem os adversários, que também se esforçaram e são merecedores.