quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

As subcelebridades e o nada

Numa entrevista com o professor Maurício Tavares, da UFBA, vi cunhada a expressão subcelebridade.
Adorei.
Há tempos venho me perguntando qual o interesse que certas figuras despertam na mídia, e o porquê desse interesse. Lança-se um cantor ou uma cantora qualquer, e ele rapidamente é alçado ao estrelato, ganha manchetes, factóides, destaque, enfim, um enorme espaço nos veículos de comunicação. Um espaço que é caro, que é importante, que influencia cabeças e que tem um significado coletivo muito arraigado na população.
Pois é, aí você vê o trabalho desse cantor ou cantora, e não consegue identificar nada de aproveitável. Você pesquisa sobre a vida desse cantor ou cantora, e não encontra nada: ou ele ainda nem viveu direito, ou sua experiência em nada difere dos milhares de outros na mesma profissão. Você lê entrevistas ou testemunha aparições televisivas desse cantor ou cantora e continua na mesma: nada acrescenta, nada traz de novo, nada traz de interessante, positivo, edificante ou mesmo contestador. Por fim, você fica como eu, se perguntando o que é que as pessoas viram nessa figura.
E assim acontece com cantores, cantoras, atores, atrizes, apresentadores, apresentadoras, modelos, artistas de todo o tipo.
E o que é pior é que isso começa a acontecer com pessoas que não têm nenhum trabalho, nada a apresentar, nenhum talento. Não cantam, não atuam, não sabem nada em profundidade, não apresentam ideias novas nem trabalhos artísticos consistentes. E ganham uma parcela do espaço midiático.
E o que é pior ainda é que essas pessoas sem nenhum talento se metem a cantar, atuar, apresentar-se. E por quê? Porque a mídia apostou durante anos em cantores, atores, apresentadores sem talento nenhum. Então é possível nivelar-se a essas celebridades midiáticas atuais partindo do zero, porque elas praticamente nunca saíram do zero. É óbvio que ninguém aqui está falando de cantoras de verdade, como Maria Rita, por exemplo. Mas a Maria Rita não é o que é por ser celebridade, porque NÃO PRECISA SÊ-LO SE NÃO QUISER, porque não depende disso.
Mas há uma situação ainda pior, ainda mais tosca e vergonhosa para nossa sociedade, que é quando algumas pessoas que não têm nenhum talento ganham espaço na mídia, esse espaço tão importante na formação dos jovens, para exibir exatamente seu vazio, sua falta de talento, seu "nada" pessoal. Ou seja, quando a pessoa vira celebridade porque é burra, porque é incapaz, porque é bizarra. Chegamos ao cúmulo de vibrar com a falta de talento, a estupidez e a incapacidade.
Mas talvez haja algo ainda pior, que não merece muito comentário, que é quando uma pessoa que não representa nem acrescenta nada ganha esse espaço da mídia fazendo... nada. Os fotógrafos esmeram-se em tirar fotos da pessoa fazendo... nada. As revistas trazem manchetes sobre a pessoa fazendo... nada. Você lê uma chamada na internet, ou um anúncio numa coluna de revista de jornal sobre a pessoa fazendo... nada.
É claro que surgem milhões de pessoas que decidem, de uma hora para outra, que, se não é preciso fazer nada para ganhar dinheiro e ser reconhecido, elas também podem. E essas pessoas aceitam qualquer coisa que se lhes dê, aceitam fazer qualquer papel, aceitam qualquer enrascada ou armadilha para conseguirem atingir esse nível ideal de inutilidade premiada. Isso só pode ter um nome, que o Maurício Tavares usa muito bem: subcelebridade.
É claro, também, que figuras como essas dependem muito mais do investimento midiático, da compra de espaços de aparição pública, das mentiras criadas em torno de sua vida, que da produção de algo com qualquer valor social ou estético.
Mas, voltando ao segundo parágrafo, eu me pergunto: esse espaço da mídia, que é caro, importante, influencia cabeças, tem um significado coletivo; esse espaço que guia, manipula e pauta a opinião pública; esse espaço que tem função educativa, política, ética; esse espaço pode ser ocupado pelo nada?

Um comentário:

Dan Dan disse...

Seu artigo me lembrou tantos fatos da tv aberta que nem sei citar. Ainda mais em tempos de BBB... Mas um deles me veio à cabeça. Vi, nem lembro onde, o produtor de "O estranho mundo de Zé do Caixão", comentando sobre a entrevista que fizeram com a Geise Arruda (quem? tb me perguntei. Aquela moça que foi expulsa da UNIBAN por conta do microvestido e acabou por tornar-se "subcelebridade"). Enfim, o tal produtor (não consigo lembrar do nome)mencionou a "gafe" da moça no programa e afimava que foi proposital, chamando-a de "gênio midiático". Vivemos tempos estúpidos