domingo, 11 de março de 2012

Gabriel Braga Nunes, Marcelo Serrado e a química dos antagonistas


As pessoas estão deslumbradas e surpresas com o grande desempenho de Marcelo Serrado como uma personagem caricata da novela das nove. Eu não estou nem um pouco surpreso. Marcelo é extremamente talentoso, disso eu já sabia. Já o vi em outros papéis, e sua versatilidade é impressionante. O que as pessoas talvez não consigam lembrar é que foi contracenando com outro ator que ele fez parte da dupla com mais química da teledramaturgia brasileira nos últimos anos. Infelizmente, isso aconteceu em um trabalho de bem menor audiência.
Não acompanho novelas. São um bom produto cultural, mas não fazem minha cabeça. Entretanto, sempre acabo vendo alguns capítulos, porque minha companheira trabalha com isso, e acompanha várias delas. O pouco que vejo não me permite oferecer opiniões avalizadas, mas algumas impressões sempre são possíveis.
Entre essas impressões, está a de que a novela "Poder Paralelo", da TV Record, foi, de longe, a melhor produção da emissora nesse gênero. Inspirada claramente em "O poderoso chefão", sustentou com competência o clima nervoso decorrente da constante troca de posições entre os rivais no mundo do crime. Mas isso só foi possível graças à química entre Marcelo Serrado, vilão, e Gabriel Braga Nunes, mocinho.
Muitas pessoas preocupam-se demais com o casal central da trama e a eficiência que ele demonstra em ação. Para elas, galã e gostosa precisam convencer o público nas cenas de beijos, nas tomadas picantes, etc., e isso é um dos fundamentos do sucesso de uma novela. Essa visão deixa em segundo plano uma relação ainda mais importante para que a trama convença: a que se dá entre sujeito e antissujeito, ou mocinho e vilão. Se não houver química entre esses dois, as cenas-chave previstas pelo enredo (que são justamente aquelas que envolvem essas forças motrizes) estão fadadas ao fracasso. E, se a intriga, a oposição e a tensão não funcionam, o casal amoroso central pode exalar sensualidade que não vai adiantar nada. Quem define o enredo é o problema; quem define a novela é o antissujeito. Se um casal romântico de protagonsotas é insosso, mas o "casal" de antagonistas é forte, está tudo em dia. É essa a química que vai trazer o público, com suas faíscas, suas reviravoltas, suas provocações.
Partindo desse princípio, nenhuma dupla de atores ou atrizes foi tão brilhante nas novelas que pude ver (embora sem realmente acompanhar) quanto Marcelo Serrado e Gabriel Braga Nunes. Suas personagens trocaram de posição na preponderância, desafiaram-se mutuamente, enfrentaram-se com ritmo. E eles se fizeram divertidos, insanos, sedutores, canalhas diante do outro. Valorizaram o bom texto das falas com uma desenvoltura artística só possível pela sinergia das atuações. Agora, na Globo, que recebam os louros que bem merecem. Mas eu poderei dizer que vi o auge de cada um deles nessa parceria na Record.

2 comentários:

Patty Kirsche disse...

Bacana. Eu tb não vejo novelas, mas tenho reparado que as novelas da Record estão cada vez mais cinematográficas.

Legal o texto, parabéns pelo blog.

manu gomes disse...

Eu tb vi! Curti bastante o Toni Castellamare e o que pude conferir de toda a trama.