sábado, 1 de agosto de 2009

A intervenção cirúrgica no HU - parte 1

O que temos em comum Felipe Massa e eu?
Para quem nunca me viu, preciso adiantar que somos bem diferentes fisicamente. Financeiramente, a diferença é abissal. Além disso, não manjo nada de carros, quanto mais carros de corrida.Por outro lado, não me consta que o Felipe tenha querido alguma vez lecionar Literatura, nem que componha canções e faça poemas. Cada um na sua, não é?
Pois é, tudo isso é fato,mas... temos uma coisa em comum. Que descobri recentemente, em virtude desse infeliz acidente que ele sofreu (aliás, que azar que o Massa deu, né?). O médico particular do Felipe é, nada mais, nada menos, que o Doutor Dino Altmann. E quem é o Doutor Dino Altmann? É o grande responsável pela retirada de um higroma linfático no meu ombro esquerdo, no ano de 1996.
Nessa época, eu estudava Filosofia na USP, e ainda não tinha engrenado no curso. Desempregado, sem namorada e deprimido com minha autoimagem, resolvi praticar um pouco de musculação. Acontece que, aos 10 anos, eu tinha feito cirurgia para tirar água de uma bolha formada a partir de um vaso linfático rompido. Criança arteira, bati o ombro numa viga de madeira e vi surgir um calombo gigantesco na minha homoplata. Levado ao hospital, sofri uma cirurgia que esvaziou a bolsa, mas não a retirou. O resultado foi que, 12 anos mais tarde, a fricção do músculo provocou novo preenchimento daquele espaço vazio. Resumindo: meu ombro ficou inchado e torto.
Como tinha direito ao bom renomado Hospital da USP, o HU, marquei uma consulta para avaliar o caso. O médico que me atendeu disse que a deformação no ombro não era perigosa para minha saúde, sendo apenas acúmulo de líquido, e que eu poderia conviver com aquilo quanto tempo quisesse pela vida afora. Disse também que seria possível fazer uma cirurgia, cuja função seria meramente estética, e que isso seria decisão exclusiva minha.
Pensei, pensei, pensei... Ia ser tudo de graça. E eu não queria aquele troço no meu ombro. E, de mais a mais, aquilo não era normal mesmo, sabe-se lá que consequências teria posteriormente.
Resolvi fazer a cirurgia. E essa decisão teve o dedo de Deus, como se verá adiante.
Havia duas datas possíveis para ir para a mesa de operação: uma nas férias que se aproximavam, outra dali a seis meses. Resolvi fazer o quanto antes porque não tinha viagem nem atividade programada. Fizemos os primeiros exames. Tomografias, chapas de pulmão. E a cada exame realizado, a cara dos médicos me parecia mais fechada.
Eu não entendia bem o que estava acontecendo, mas sentia algo estranho no ar. Em determinado momento, depois de passar por distintas opiniões de especialistas de várias áreas, um dos médicos que cuidava do meu caso afirmou:
- Ainda bem que você decidiu operar agora. Terá de ser às pressas, seu quadro se agravou muito. Você tem um higroma já de 17cm, crescendo e achatando seu pulmão.
Quem já leu "Pneumotórax", do Bandeira, pode tentar recuperar o clima daquele poema quando aparecem as pausas e o tracejado antes da segunda parte para entender um pouquinho do que eu senti ao ouvir aquilo. Posso dizer, simplificando, que tomei um susto e fiquei sem ação. Não houve tempo nem de me preparar psicologicamente: na mesma semana, estava internado para procedimento de emergência. E recebendo todas as orientações e todo o acompanhamento do então médico do HU encarregado de realizá-la: por sorte, o Doutor Dino Altmann.

Continua...

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