sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Quem sabe, faz ao vivo

O bordão do Faustão dos tempos do bom Perdidos na Noite sempre ressoou nos meus ouvidos como uma verdade incontestável: quem sabe, faz ao vivo. Uma situação de show, de espetáculo, de contato com o público, aquela ocasião única, para a qual o fã se prepara por anos, é o diferencial maior entre as bandas que ouvimos e as bandas que nos marcam. Porque há músicos bons, há grandes performances, mas é difícil alguém conquistar o status de memorável, quanto mais de inesquecível.
Vi ótimos shows na minha vida, alguns muito marcantes, como os de Milton Nascimento e Ray Charles, ambos no Parque do Ibirapuera, já há alguns anos. Mas gostaria de comentar dois eventos que tive a felicidade de ver num espaço de poucos meses de diferença, e que me conduziram à reflexão do primeiro parágrafo deste texto.
Entre as bandas da atualidade, posso apontar várias de que gosto, e entre elas estão, sem dúvida alguma e em lugar especial, Coldplay e Keane. Melódicos, melodiosos, emotivos, emocionantes, esses caras sempre me pegaram com suas músicas. Numa hierarquia de gosto, eu sempre curti mais o Coldplay, sempre achei que eles tinham as composições mais viajadas e tocantes.
Entretanto, em 2008, Coldplay e Keane vieram ao Basil, e eu contava com alguns trocados a mais passíveis de alimentar a extorsão que são os preços via Ticketmaster. Comprei ingresso para os dois shows, e admito que só fui ao Keane porque minha namorada queria muito vê-los, e achei justo acompanhá-la nesse show, visto que ela me acompanharia no Coldplay, em quem a pequena não via muita graça.
Pois não é que os shows viraram minha cabeça? O Coldplay é bom ao vivo, mas não é marcante, não é empolgante, não faz a gente pirar. As músicas são excelentes, a banda é muito boa, mas é bem melhor no estúdio. Presencialmente, eles são até meio distantes, meio burocráticos. E tenho a impressão de que Chris Martin tem vocais delicados e difíceis demais para uma situação de gritaria de fãs e várias horas de palco. Já o Keane mata a pau. Tom Chaplin é o vocalista mais incrível que já vi em ação. Canta sem miséria, põe voz mesmo. E comanda o show com uma vitalidade impressionante. As músicas parecem melhores quando eles tocam ao vivo. A banda faz você esquecer de absolutamente tudo que não seja o que estão tocando. Fui com uma expectativa menor ao show deles, e saí completamente conquistado. Eles têm uma cara mais pop, menos melancólica, menos, digamos, profunda e trabalhada que a do Coldplay, e a crítica desgosta disso, no geral. Mas em situação de palco, de show, de apresentação, eles dão um banho. A empatia, a alegria, o carinho com o público são absolutamente únicos.
É verdade que travo muito mais contato com essas bandas por download e audição das canções que por apresentações. Mas a impressão do show é a que fica. O Coldplay vem ao Brasil de novo ano que vem. Não vou. Um show deles me bastou, já estou contente. Entretanto, de semana em semana invado a página do Keane no Orkut para saber quando eles voltam. É humano e saudável sempre querer reviver momentos que nos pareceram mágicos e encantadores. Essa é uma das formas que a arte tem de revitalizar pessoas como eu, que associam a música a climas, momentos, lugares, encontros, situações, pedaços da vida.

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