sábado, 7 de novembro de 2009

Segundo lugar

Ser segundo colocado em alguma disputa é uma honra. Sempre pensei dessa forma, e antes que alguns me acusem de falta de fome de vitória, devo ressaltar que essa característica também pode ser positiva, ajudando criaturas como eu a valorizarem o próprio esforço e não se lamentarem de serem superadas quando atingiram o máximo do que poderiam oferecer.
Ser segundo lugar significa, em minha opinião, ter o obtido o melhor de todos os resultados, menos um. E pode ser, às vezes, feito tão ou mais extraordinário que ser vencedor. Depende da meta que foi traçada, depende do caminho que foi trilhado, depende da expectativa do desempenho.
Vi e revi, diversas vezes, no YouTube, a prova do Mundial de Atletismo, na Alemanha, em que Usain Bolt cravou 9s58 nos 100m rasos. A performance de Bolt é absolutamente espantosa, não resta dúvida. Mas a corrida de Tyson Gay, americano que chegou imediatamente depois de Bolt, é igualmente impressionante, e até mais assustadora. A concentração de Gay antes da largada, as passadas seguras e violentas e a expressão corporal mostrando um indivíduo disposto quase a destruir-se dentro da pista para chegar na frente são de uma dramaticidade épica, e chamaram minha atenção desde a primeira vez em que pude ver a corrida toda. A premiação posterior mostra um atleta decepcionado com a medalha de prata, cena curiosa que contribui ainda mais para a impressão de que Gay deu tudo de si. Na verdade, deu o máximo de si e mais um pouco: fez um tempo de 9s71, o melhor já registrado por um corredor americano (Carl Lewis, Asafa Powell e Donavan Bailey, por exemplo, nunca atingiram essa marca). Deve ter doído nele saber que correu tão bem e mesmo assim não levou o ouro. Respeito essa dor. No entanto, não consigo achar outra palavra que não seja "vitória" para definir com justiça o desempenho de Tyson Gay. Quando dois atletas competem num nível tão alto, com uma dedicação tão grande e resultados tão significativos, não é possível falar em perdedores.
Isso funciona como uma inspiração adicional para mim. Tive de penar muito para aprender que não posso e nem devo querer acertar tudo em todas as coisas da vida. Hoje, posso rir de frustrações curiosíssimas que vivi, agradecer por não ter atingidos certas metas que me consumiram muito e reconhecer que o aprendizado da luta valeu mais que os louros da vitória em boa parte de meus empreendimentos. Para mim, tanto faz voar pelo estádio como Bolt, ou por sobre a sombra de Bolt, como Tyson Gay. O importante é manter-se voando, dando o melhor de si.

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