domingo, 9 de março de 2008

A voz mecânica

Hoje entrávamos no Shopping Ibirapuera, e quando passamos pela catraca para pegar o ticket do estacionamento, o rapaz que nos entregou conversava interessadamente com uma moça a seu lado. Enquanto ele, sem sequer nos fitar, estendia o braço e entregava o ticket, ouvíamos uma voz mecânica dizer: "Obrigado por sua visita ao Shopping Ibirapuera".
Na Reunião de Professores deste ano, na escola em que trabalho, a coordenadora comentou alguns assuntos, assuntou outras coisas e fez as recomendações necessárias no meio de uma falação geral. Quando um colega levantava a mão para expor algum item importante, os outros simplesmente ignoravam a colocação, continuando ou iniciando uma conversa paralela. Não dava pra ouvir ninguém. Até que chegou o momento de passar o vídeo com a fala do secretário da educação.
A coordenadora nos advertiu de que era improtante, de que tínhamos de fazer silêncio. Nós advertimos nossos colegas de que era preciso maneirar para ouvir o vídeo. Botei o vídeo para rodar. O murmurinho acabou, a falação cessou, todos prestaram atenção. A imagem do secretário no vídeo impôs mais respeito que a fala de qualquer dos colegas que estava presente. Respeitamos mais a fita de vídeo que o companheiro de profissão sentado ao nosso lado.
Refleti sobre isso hoje. Em um caso, a voz mecânica foi mais educada que a pessoa de carne e osso. No outro caso, as pessoas foram mais educadas com a voz gravada que com as pessoas de carne e osso. Nos dois casos, a pasteurização da fala e a impossibilidade de diálogo mostraram-se menos incômodas que as possibilidades de trocas erigidas na relação interpessoal. As pessoas não querem conversar, parece que isso incomoda. E parece que isso já foi descoberto por quem as manipula.

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