terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Eu quero meu Camões de volta

Houve uma limpa na parte de cima dos armários da faculdade, na qual muitos professores, eu incluso, deixavam materiais que não cabiam nos espaços a que tinham direito. Nessa brincadeira, dei conta de que não estava achando o livro Obras completas de Camões. Procurei como um doido. Olhei tudo, no trabalho, em casa, na escola da Prefeitura. Perguntei aos inspetores, perguntei aos colegas, aos alunos, aos vendedores dos estabelecimentos por que passei. Nada de achar o livro.
Aquele exemplar pode ser comprado novamente com facilidade. Mas duvido que o encontre nas mesmas circunstâncias em que o adquiri, novo, por um terço do preço, numa dessas promoções espetaculares que a gente tem de aproveitar imediatamente para não se arrepender depois. O que mais me agoniava, entretanto, era perder uma edição tão bonita do meu poeta preferido. Puxa, justo Camões! Justo o cara que venho redescobrindo com os alunos, canto a canto nos Lusíadas, verso a verso na lírica, passo a passo na biografia! Justo um dos livros de que mais gostava!
Nos dias que antecederam o Natal, sonhei que tinha encontrado o livro. Geralmente, não lembro as coisas que sonho, mas essa cena ficou gravada com espantosa nitidez na mente. Senti de novo a textura do papel em minhas mãos, olhei de novo as letras miudinhas, a beleza das ilustrações, sondei de novo as possibilidades listadas nos índices. Só faltava sonhar com Papai Noel me entregando o livro em pessoa. Acho que só não rolou porque nunca fui muito ligado nessa coisa de Papai Noel.
Ainda não comprei o livro de novo. Vou esperar uma promoção como aquela (este esperar é de esperança, além de espera). Tenho fé nisso. Basta vir a oportunidade. Esse é, literalmente, meu sonho de consumo. É o que inconscientemente pedi a um simbólico "meu Papai Noel".

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Alguém pode estranhar a postagem sobre um sonho alegre e recompensador relacionado a livros, não a pessoas de meu convívio. Sustento que isso é coerente, se pensarmos a relação que mantenho com objetos de desejo.
Para mim, livros se tornam pessoas quando me acostumo com eles e quero-os do meu lado. Tenho ciúme deles, tenho uma relação que não pode ser maculada com a interferência de postits ou grifos alheios, por exemplo. Por outro lado, quanto mais conheço uma pessoa, mais entendo que ela é mais que só uma pessoa. Quanto mais me acostumo com ela, mais entendo suas necessidades, e menos faço exigências de exclusividade.
Quero que as pessoas apareçam de vez em quando porque querem, porque gostam de mim. Por outro lado, quero que os livros não desapareçam nunca, porque os quero, porque gosto deles. Livros, eu os quero só meus. Pessoas, eu as quero bem, e só.

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