quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Treze vozes

Cantar é algo que se aprende. Se eu não acreditasse nisso, não estaria estudando canto até hoje. Mas há algo de estritamente individual e particular no canto, que é corporal, genético, característico, que é a voz do cantor ou da cantora. Uma pessoa que tem um timbre de voz bonito já conta com um recurso a mais para encantar cantando. É claro que isso não basta, mas quando o artista tem consciência de que possui esse diferencial e se dispõe a explorá-lo, temos momentos únicos de magia musical.
Nesta postagem, prestarei uma homenagem a pessoas cuja voz me fascina e delicia. A maioria é de grandes intérpretes, mas não é exatamente isso que avalio aqui. Não listarei pessoas que me deixam boquiaberto pela emoção ou pela apurada técnica da interpretação, mas aquelas que me levam a pensar "como é bom ouvir essa voz" ou "poderia ouvir esse pássaro por mais cem anos". Mesmo que cantem canções pouco marcantes ou errem nas escolhas de intensidade e dinâmica, essas pessoas que homenageio contam o perdão incondicional dos meus sentidos, porque têm uma magia física no canto capaz de me capturar na primeira audição.

São elas:
Jon Anderson - Acho que ele tem o timbre de voz mais gostoso de ouvir que conheço. Canta agudo sem fazer esforço, com docilidade, com leveza. O Yes é um com ele, e nenhum sem ele, e os fãs sabem que é verdade.
Mercedes Sosa - Voz poderosa, encorpada, impactante. Difícil igualá-la porque sua interpretação sabe explorar as características de voz tão únicas que ela tem. Aliás, nunca vi ninguém imitando-a, nem para copiá-la, nem para caricaturá-la. Pena que se foi sem eu ter podido vê-la ao vivo.
Marina - Timbre mais sexy que conheço. Como ela canta mais grave e com menos intensidade, meio que insinuando as frases, a voz cai como uma luva em canções com mensagens sensuais. Atualmente, decaiu muito, por complicações nas cordas vocais, mas ainda guarda certo charme.
Karen Carpenter - Voz feminina impressionante, com belo grave e alcance notável. Excelente para as canções de amor, mas creio que talhada para qualquer tipo de música, se assim o desejasse.
Milton Nascimento - Extraordinária manutenção do timbre aveludado do grave ao falsete. Ninguém no planeta tem voz assim. Algumas canções parece que não poderiam ser cantadas por outra pessoa. Pense em alguém para fazer o que ele faz em "San Vicente". Vai pensando...
Cássia Eller - Li uma vez em algum lugar que ela tinha voz de soprano. Pelo que entendo, usava mais a região de contralto, o que mostra que sabia tirar o melhor de sua tessitura. Sem contar que manjava demais da arte, e assim fica fácil com qualquer voz.
Annie Haslam - Voz belíssima, cantou no Renaissance na década de 70 e depois não sei para onde foi. Timbre quase de cantora erudita, mas carregado de uma emoção genuína e cativante.
Grace Slick - Como cantava essa mulher! Fez a linha de frente do Jefferson Airplane. Se só tivesse cantado "White Rabbit" e mais nenhuma outra música o resto de sua vida, já estaria na minha lista.
Joan Baez - Valoriza qualquer canção com sua interpretação sempre forte. Deus lhe brindou com uma voz marcante, imponente, e ao mesmo tempo agradabilíssima.
Johnny Cash - A voz grave mais notável que conheço. Coitado do Joaquim Phoenix, que teve de interpretá-lo no cinema. Devia ter dublado. A primeira coisa que comentei quando estava vendo as cenas de ensaio das músicas foi: "Credo". Quando der, ouça como Cash canta "Hurt". Arrepia.
Jon Thor Birginson - Esse canta! Caiu meu queixo a primeira vez que ouvi esse cara. Timbre em falsete, meio infantil, meio agônico, mas muito doce. Nos últimos tempos, tem explorado mais o registro normal da voz, e não faz feio. Seu canto combina perfeitamente com o estilo viajante de sua banda e de seu trabalho solo. Queria cantar como ele.
Greg Lake - Voz perfeita do progressivo. Não aquela de agudões, berros, malabarismo, mas de colocação, respeito pelos limites de extensão, e qualidade de empostação. Muito bom no King Crimson, muito bom no Emerson, Lake and Palmer.
Carla Bruni - Nem sabia que ela era modelo quando a ouvi cantando pela primeira vez, quanto mais que viria a ser primeira-dama. Então, não é porque ela está famosa agora que a coloquei nesta lista. A verdade é que ela não tem uma grande voz, nem interpreta tão bem assim, mas escolheu um estilo sussurrado, que cai muito bem para seu timbre doce. Conheci quando fazia Francês na USP, e adorei, mas não tenho mais ouvido tanto, porque o repertório é, de fato, um pouco enjoativo.

Bom, taí. Há muitas outras que ficaram de fora, porque não quis fazer AS treze melhores, mas sim treze DAS melhores. Aceito e avalio sugestões e discordâncias.

Nenhum comentário: