quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Nem aí para Avatar

O que me leva ao cinema? As pernas, diriam meus alunos irreverentes e mal-educados. A insistência da namorada, diriam as pessoas que sabem que sou caseiro. Um filme sobre dinossauros, diriam as pessoas que conhecem meus gostos bizarros.
Concordo com todas as alternativas anteriores. Entretanto, devo acrescentar algo. Só consigo me empolgar de sair para ver alguma coisa no cinema quando crio grande expectativa em relação a algum filme. E como se cria essa expectativa, no meu caso? Com uma sequência de bons trabalhos de um diretor. É como funciona para mim.
Assim, se Woody Allen lança um filme, eu provavelmente queira ver, porque já vi muita coisa boa dele, e gosto do estilo. Se Shyamallan lança algo novo, mesmo sabendo que os últimos filmes não eram nenhuma Brastemp, eu quero ver, porque o saldo dele comigo é superpositivo. Assim é com Lars Von Trier, assim é com os irmãos Cohen, e outros. É possível, ainda que eu me interesse por um filme de um diretor iniciante ou desconhecido para mim, mas que tenha boas referências entre meus amigos, ou um tema que considere rico. Devo dizer que, nesse caso, as chances são bem menores, mas existem.
Há, no entanto, aqueles filmes de diretores dos quais já conheço alguns trabalhos que nunca me disseram nada. Não gosto de superproduções. Prefiro produções supersacadas. Pode parecer extravagante, mas gosto de filmes em preto e branco, das décadas de 40 e 50, ou do Bergman, ou do Hitchcock, ou do Orson Welles, filmes noir, filmes mudos, Encouraçado Potenkin e por aí vai. Filmes desse tipo me chamam a atenção, e dou muito mais valor a uma boa história bem filmada que a uma sucessão neurótica de cenas de impacto, efeitos visuais e pirotecnias do gênero. Por isso, James Cameron não me interessa. Não o considero um grande artista, ele nada tem a ver com o que concebi como cinema de qualidade. Boa produção e boa direção de arte a serviço de histórias óbvias e apelativas, é isso que vejo no cinema dele. Titanic foi o filme mais superestimado da história do cinema: é uma historinha de sessão da tarde com produção de aventura intergalática, que rendeu um monte de dinheiro e não tocou em nenhuma questão aguda ou relevante para a arte, o cinema, ou a condição humana.
Em virtude dessa má vontade minha com Cameron, não estou nem um pouco interessado em Avatar. O fato de ser um filme 3D não melhora a situação. Meu interesse continua sendo zero. Se o filme receber críticas positivas de todos os meus amigos, e for elogiado em muitos aspectos diferentes, talvez eu releve minha decepção com Titanic e entre na fantasia de Cameron. Caso contrário, vou ficar em casa, vendo os filmes da coleção Clássicos do cinema da Folha, que são diversão garantida.

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Gostei desta postagem do Bender blog a respeito do filme.

Um comentário:

Dan Dan disse...

Eu até acho que "Avatar" vai ser um divisor de águas no cinema, por tratar-se de introdução sutil do 3D, mas a história é sofrível, não vale a pena...
Sugestão de post: porque vc não monta uma biblioteca básica?
Beijos