terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Televisivas

O concurso "Beleza na favela" da Record tem um lado interessante, que é dar oportunidade profissional a meninas de regiões desfavorecidas. Há, no entanto, a reprodução de um problema que é o mesmo de todos esses concursos de modelos: exige-se um biotipo extremamente magro e raro de encontrar na população em geral. Acaba-se reforçando o estereótipo de mulher magérrima, que ocasiona um parafuso mental nas adolescentes do mundo afora e está relacionado ao aumento assustador dos casos de anorexia e bulimia em pessoas cujo biotipo é diferente desse que é valorizado. Legal dar oportunidade a localidades diferentes; mas eu espero ainda um concurso aberto a tipos de beleza diferentes, valorizando, inclusive, a beleza das muitas mulheres brasileiras que não são magérrimas e compridas, mas enchem os olhos de encanto.
Agora, trocar "favela" por "comunidade" no nome do concurso é meio forçado. As palavras não são sinônimos, nem a segunda serve de eufemismo para a primeira. E "favela" não é pejorativo, na minha opinião.
Curioso vai ser explicar o concurso para quem não o conhece:
"- O que é esse não sei o quê de beleza na comunidade?
- Eles pegam meninas e elegem a mais bonita e fazem um contrato com ela.
- Meninas de onde?
- Acho que das favelas."
Nesse caso, creio que o vocábulo politicamente correto apenas contribui para reforçar a sensação de distanciamento entre o mundo do concurso e o mundo da favela. Soa falso, e menos simpático.

O César Tralli esteve aqui no meu bairro, a uma rua da minha casa. A reportagem filmou crianças traficando drogas livremente, com a maior tranqüilidade e sem pressão de nenhuma instância de segurança pública. Achei ótimo. Isso é denunciado faz tempo, mas é voz corrente que essas questões, por mais agudas que sejam, só incomodam os administradores da coisa pública quando expostas na mídia. Espero que haja respostas efetivas a essa louvável provocação do SPTV, porque essas crianças são a ponta de um processo muito pernicioso, e, por isso, as primeiras a sofrerem os brutais efeitos da violência ligada a esse gênero de criminalidade. Depois coloco o link.

Nenhum comentário: